22 de maio de 2020

Pandemia acelera ruptura de blocos comerciais

Os efeitos da pandemia no mercado global deverão ser extremos e provocar profundas alterações na forma como os países negociam seus produtos e serviços. É o que constata uma avaliação preliminar do comportamento do comércio exterior nos primeiros meses da pandemia. Os fenômenos recentes como a saída da Inglaterra da União Europeia e da Argentina do Mercosul, demonstram que estas mudanças seguiram, seu rumo, mas de forma mais ágil consolidando uma nova era para relações comerciais entre os países. A pandemia está acelerando essa ruptura dos blocos comerciais e abrindo espaço para uma nova dinâmica comercial pautada sobre acordos entre países. Os Acordos bilaterais serão a nova forma de globalização.

Há um acirramento da guerra comercial entre China e Estados Unidos. A China exportava US$ 800 bilhões para os EUA anualmente e só comprava US$ 400 bilhões. Ou seja, havia um desbalanceamento grande e, por outro lado, as indústrias que estão saindo de lá buscarão países como o Brasil para ancorar sua indústria. O Brasil é o principal parceiro comercial dos EUA e da China e poderá ter protagonismo nos dois países, caso compreenda essa nova forma de jogo de mercado.

Já nestes primeiros meses da pandemia, os produtos brasileiros ocupam posição de destaque nos mercados com a China e com os EUA. O ministério da agricultura do Brasil divulgou este mês, o aumento da exportação de carnes suína e bovina para a China. Segundo o Departamento de Alfândegas, mesmo com a pandemia as exportações de suínos cresceram. O destino foi a China, maior consumidor de carne suína do mundo. Por outro lado, dados da Organização ComexVis colocam os principais destinos aos produtos brasileiros os Estados Unidos com 17,36% das exportações e China com 12,45%. Um protagonismo que deve aumentar.
Os Estados Unidos já estão negociando diretamente com o Japão, Rússia, Índia etc., com o Brasil, assim como o fizeram com a Coreia, Flipinas e outras nações . A fuga das empresas internacionais da China em busca de outro lugar para desenvolver suas atividades e continuar provendo seus produtos no mercado americano, devem também conferir ao Brasil um papel de protagonismo comercial. O que veremos então, é um novo mercado americano mais aberto a substituir produtos que normalmente vinham da China.
O Brasil terá uma grande possibilidade de não só exportar o que já produz como também receber tecnologia e investimento de indústrias que estão saindo da China e que estão em busca de um outro lugar para ficar. O Brasil tem parques industriais muito bem estruturados que poderão agora, com uma política de governo mais voltada à exportação, aumentar seu fluxo. A peste que se abateu na produção suína na China desde o ano passado, a fez aumentar a demanda de compra a nível mundial. Então é realmente um seguimento interessante para o Brasil entrar. A China, em particular, tem tido altos e baixos nessa produção agrícola, principalmente na área animal por conta da falta de “cuidados” na área de saneamento. O importante é manter o custo de produção baixo, porque na medida que a China retorne a sua capacidade de produção, ela vai procurar produtos que possam manter a qualidade, mas também preços competitivos.
A China não tem problema de divisas. Ele cita que o país tem um programa de cerca de US$ 2 trilhões de reservas só em bônus no tesouro americano. É claro que há interesse da China em continuar sua exportação. O país tem, inclusive, um projeto que chama “Made in China 2025” que é o domínio do comercio mundial através da logística. Um projeto oficial do partido comunista da China. Por isso que o país criou a rota da seda, ampliou toda a sua capacidade de compra na área de portos e construção de ferrovias. Porque sabe que sua demanda será crescente.

É objetivo da China tirar o poder do dólar no mercado mundial e colocar como alternativa a sua moeda digital, recém lançada. Para comprar e vender para a China está será a nova moeda. A queima de estoques das reservas em títulos do tesouro americano, faz parte desta estratégia, pois espera a desvalorização do dólar. Por isto a China quer transformar este ativo financeiro em bens reais e esta indo as compras tanto de ações (Interessantemente desvalorizadas face a pandemia) e propriedades, no mundo todo.

A medida que melhora a qualidade de vida do povo chinês o país precisa de mais produtos, particularmente agrícolas. E a parte da exportação da China está mais voltada para o seguimento industrial. É onde praticamente o país ganha mais e pode pagar melhor aos seus cidadãos. Sem dúvida o mundo inteiro vai comprar menos, não é só o Brasil que diminuiu a sua compra. A demanda de petróleo caiu a praticamente quase zero. Então a China vai buscar um reequilíbrio, mas esse reequilíbrio não é necessariamente contra o Brasil. Porque o Brasil é um parceiro importantíssimo para a China. E o Brasil pode tirar um grande proveito nessa ocasião agora em que a China continuará tendo que disputar mercado para os seus produtos, porém, está sofrendo uma série de ações, inclusive públicas, a nível da justiça em função de ter liberado de maneira irresponsável e tardia informações do vírus o que está causando também uma crise política com o mundo inteiro.

Uma nova relação comercial dos Estados Unidos com o Brasil também está prevista. Um novo mercado em que o Brasil, se aproveitar a oportunidade, poderá ocupar papel central na relação comercial com o vizinho americano. Já está em curso uma negociação mais direta entre o país norte-americano e o Brasil. Na área agrícola, em particular, com toda sua capacidade de produção de proteína animal, o Brasil deve ocupar um lugar de destaque. Isso porque a pandemia não só acabou atrapalhando a produção nos EUA, como também na China. Com isso, o país se coloca como um eminentemente provedor de produtos de alta qualidade para o mundo em geral e para esses dois grandes países, em particular.
Carlo Barbieri é analista político e economista. É Presidente do Grupo Oxford, consultor, jornalista, analista político, palestrante e educador. Formado em Economia e Direito com mais de 60 cursos de especialização no Brasil e no exterior. oxfordusa.com/

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