28 de abril de 2020

A importância da união na crise do COVID-19

Precisamos nos focar em vencer o vírus e salvar a economia. O momento mostra que, ao longo dos anos, os governos não se atentaram de algo importante e que será altamente impactado com a pandemia. Não cuidamos com atenção da vida dos mais pobres. A desigualdade é gigante e nesta situação ela se torna ainda mais preocupante. Temos que ouvir aqueles que entendem do assunto e focar na questão epidemiológica. Infelizmente, não existem remédios ou vacinas para esta doença. A única forma de combate é nos distanciarmos. Para quem vive em uma casa apertada é muito difícil, por isso a desigualdade social se torna um risco para o agravamento da pandemia. A quarentena é algo que vai contra os interesses da economia e também não agrada as pessoas por proibir a socialização, porém nossa única defesa real é ficar em casa.

Não existe outra forma de superar este momento sem o endividamento do Estado e a ajuda de capital internacional. É uma conta que será paga pelas gerações futuras, pois os reflexos deste momento serão sentidos ao longo dos próximos dois a três anos. Não acredito que os EUA perderam a supremacia, mas é certo de que se eles não entrarem com ajuda financeira a China entrará. Quando digo EUA estou falando pela influência que têm no FMI (Fundo Monetário Internacional) e no Banco Mundial. Mas, é fato que precisaremos do apoio dos bancos nacionais também.

A globalização não vai desaparecer, mas vai haver mudanças nas atividades dos países e das empresas para evitar dependências em setores essenciais de um ou poucos países.

Não aprecio essa desunião dos poderes. É importante manter a coesão da sociedade para passar pela crise e entender a diferença entre os militares que estão no governo e a missão constitucional das Forças Armadas. O problema é a inexistência de lideranças fortes. Alguns governadores começam a se destacar, mas ainda é cedo para dizer como esse movimento vai evoluir. Os membros dos governos devem entender que é vital passar informações à população. Em momentos como este, o importante é explicar a situação, buscando mostrar que existe uma estratégia e uma chefia. Temos que passar segurança aos que estão em sofrimento. É necessário esperar, pois as instituições mudarão com o tempo. Temos que respeitar a democracia. O processo é mais profundo e os poderes precisam se reorganizar e se alinhar.

Pensar em estratégias para o pós-crise, promovendo a reabertura do mercado, é muito importante, porém é necessário estar com os pés na realidade, pois, o país ainda está na emergência. Estamos pensando em um próximo passo, mas não fomos capazes de mostrar ao povo que entraremos em uma segunda fase da crise, pois a população ainda está preocupada com os leitos em hospitais e não está preparada para pensar em uma retomada da economia. A população está pensando no imediato, na preservação de sua vida, não no futuro. O momento pede cautela e análise. Temos que tomar cuidado para voltar a vida normal e não correr o risco de uma segunda onda de contágio. Temos que nos basear nos exemplos dos outros países que já passaram pelo pico da pandemia. Analisar o que deu certo e adaptar para a nossa realidade. Precisamos equilibrar este jogo, analisando as situações com racionalidade e sem voluntarismo.

Fernando Henrique Cardoso – Sociólogo, professor e ex-Presidente da República do Brasil. 

 

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