É uma história que o produtor de carne suína conhece bem. Novamente, um novo ano vai ficar marcado na história da suinocultura brasileira. 2018, para infelicidade do segmento, cumpriu um novo ciclo conhecido, de altos e baixos nos preços de insumos e da carne produzida pelos criadores.
E castigou com violência as margens e os negócios dos produtores. No Estado de São Paulo não foi diferente. Os empresários rurais independentes pagaram caro pelo milho, pela soja, pelos insumos importados, vítimas do câmbio, e ainda sofreram com um mercado consumidor interno claudicante e tímido. O mercado externo teve um início aterrorizante, com a saída da Rússia como comprador, o que só virou ao fim de 2018.
E vieram os casos de Peste Suína Africana na Europa e, principalmente, na China. O saldo médio total foi: produzir carne suína para brasileiro e comprador internacional comprarem custou mais do que foi recebido. A Revista AgroRevenda ouviu uma análise objetiva e seca sobre este mercado do presidente da Associação Paulista dos Criadores de Suínos (APCS), Valdomiro Ferreira Junior. Acompanhe:
REVISTA AGROREVENDA – Foi o pior ano para a suinocultura independente de São Paulo?
VALDOMIRO FERREIRA JUNIOR – Sim. Crise longa e sem precedentes. Provocando sérios problemas no fluxo de caixa das granjas e preocupação no pagamento dos investimentos realizados nos últimos anos.
REVISTA AGROREVENDA – Quem atrapalhou mais: o câmbio ou o milho e a soja?
VALDOMIRO FERREIRA JUNIOR – Os três. Milho e Soja representa 60% do custo na produção de suínos. Câmbio, chegamos nos extremos de R$ 3,02 a R$ 4,05. Uma curva acima de 34% entre os limites. Sangra o setor.
REVISTA AGROREVENDA – Como foi o fundo poço, em abril? Você teve notícia de produtores paulistas deixando o negócio ou entregando granjas a outro criador?
VALDOMIRO FERREIRA JUNIOR – O percentual de saída de produtores foi muito pequena. Na verdade ocorre uma troca de mãos, entretanto, a quantidade de matrizes no plantel se manteve.
REVISTA AGROREVENDA – No dia a dia, o que um suinocultor faz para enfrentar o prejuízo?
VALDOMIRO FERREIRA JUNIOR – Sofre todas as consequências. E fica naquele dilema, vai melhorar!
REVISTA AGROREVENDA – Que estratégia o Consórcio Suíno Paulista usou ao longo do ano para comprar bem, gastando o menos possível?
VALDOMIRO FERREIRA JUNIOR – Estratégia é comercial, obedecendo os fundamentos de mercado. Oferta, demanda, qualidade e principalmente mantendo a credibilidade dos produtores perante os nossos fornecedores.
REVISTA AGROREVENDA – Alguns produtores ligados à APCS também abatem animais. Eles sofrem mais ou menos em crises assim?
VALDOMIRO FERREIRA JUNIOR – Numa crise de preço e custo quem sofre numa escala dos setores em ordem de perda: produtor e frigorífico. Alguém ganha, e com certeza o mercado varejista é um deles.
REVISTA AGROREVENDA – A Rússia voltou a comprar carne suína e bovina do Brasil. O que isto significa para a suinocultura brasileira em 2019?
VALDOMIRO FERREIRA JUNIOR – Muito. Temos um percentual entre 16 a 18% de nossa produção destinada ao mercado externo. Nesse patamar, a Rússia representava 45% do total. Portanto, precisamos continuar a manter um mercado bilateral em termos de mercado externo.
REVISTA AGROREVENDA – Alguns produtores independentes ligados à APCS possuem marca própria de carne. Como tem sido o resultado deste tipo de investimento?
VALDOMIRO FERREIRA JUNIOR – O mercado de marcas tem uma tendência de crescimento na carne suína. A credibilidade do consumidor final vem crescendo pela marca em detrimento a origem do produto.
REVISTA AGROREVENDA – O que a APCS e os produtores paulistas esperam de 2019 para a carne suína do Brasil e do Estado?
VALDOMIRO FERREIRA JUNIOR – Que possa ocorrer rentabilidade do setor. Uma atividade só poderá manter-se viva se existir lucro. Produção e produtividade os produtores estão com números de primeiro mundo. Apenas precisamos ganhar para produzir, isso exige PREÇO JUSTO PARA PRODUZIR.
Receba nossa newsletter semanalmente. Cadastre-se gratuitamente.