A cultura da soja foi responsável por estar presente em 57% da área destinada a produção de grãos no país, totalizando 35,1 milhões de hectares cultivados na safra 2017/18, constituindo-se como a mais importante cultura para a agricultura brasileira (CONAB, 2018). Diante de uma área de cultivo tão extensa com uma única cultura, o controle de doenças, principalmente da ferrugem asiática da soja [Phakopsora pachyrhizi (Sydow & P. Sydow)], tem um papel fundamental na obtenção de altas produtividades.
A ferrugem asiática pode causar redução de produtividade de soja na ordem de 75% e com isso, se faz necessário o uso de vários métodos de controle no manejo da doença. Dentre estes métodos está a adoção de vazio sanitário, calendarização de semeadura da cultura, semeadura de variedades cada vez mais precoces já na primeira época de plantio permitido, uso de variedades com genes de resistência, além do controle químico.
Na safra 2017/18, a semeadura da soja teve um pequeno atraso em algumas regiões devido a falta de chuvas, mas a grande maioria das áreas foi semeada até final de novembro, o que proporcionou um “escape” do período onde há maior severidade de ferrugem asiática.
Nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais a primeira ocorrência de P. pachyrhizi em lavoura comercial foi constatada já no mês de novembro, de acordo com Consórcio Antiferrugem, o que levou a produtores e consultores a ficarem preocupados. No entanto a evolução da doença foi bastante lenta, em relação ao que já foi observado em safras anteriores.
Para os estados do Centro-Oeste, Nordeste e Norte do Brasil a ferrugem asiática teve suas primeiras constatações em lavouras comerciais a partir de 22 de dezembro e a evolução da severidade do patógeno também foi muito lenta, o que levou a colheita da grande maioria das áreas de soja dessas regiões sem a presença desta doença.
De acordo com levantamento feito por pesquisadores da Embrapa Soja, na safra 2017/18 somente o estado do Paraná registrou prejuízos devido ocorrência de ferrugem asiática. Fato que se atribui aos longos períodos de chuva nos meses de dezembro e janeiro, o que em casos pontuais impossibilitou a pulverização para o controle químico. Nos demais estados do Brasil não houve decréscimo de produtividade causado por esta doença.
O eficiente controle da ferrugem asiática se deu pela semeadura na época recomendada em grande parte do país, proporcionando o “escape” da doença, assim como o uso de fungicidas de modo consciente pelos agricultores, alternando diferentes ingredientes ativos durante o ciclo da cultura e, associando fungicidas multissítios nas aplicações com os de sítio específico para controle do fungo. Esta ação minimizou os riscos da seleção de populações resistentes de Phakopsora pachyrhizi aos fungicidas utilizados.
De acordo com resultados apresentados no VIII Congresso Brasileiro de Soja, a frequência de ocorrência de mutação C-I86F em populações de P. pchyrhizi, a qual confere menor sensibilidade do fungo às carboxamidas, na safra 2017/18 teve uma redução em relação à safra 2016/17. Fato que pode estar ligado principalmente à maior rotação de ingredientes ativos no programa de aplicações de fungicidas e também a associação de multissítios nas aplicações que na safra 2017/18, aumentou 27,3% em área tratada em relação à safra 2016/17. No entanto a utilização de multissítios ainda é baixa quando se busca um manejo de resistência. Apenas 28% das pulverizações para ferrugem asiática foram realizadas com associação de algum fungicida multissítio. Porém a cada safra tem ocorrido um incremento no uso desta ferramenta que traz segurança a curto e longo prazo para toda cadeia produtiva da cultura da soja no Brasil.
Os primeiros indícios de perda de sensibilidade de P. pachyrhizi a triazois foi detectada em 2007, seis anos após o início da utilização deste grupo químico em lavouras de soja para controle desta doença. Para estrobilurinas, o fungo apresentou os primeiros indícios de perda de sensibilidade em 2012, dez anos após o início da utilização comercial de ingredientes ativos pertencentes a este grupo químico. No caso de carboxamidas foram somente três anos desde o início do uso em áreas comerciais de soja até o primeiro relato de perda de sensibilidade de P. pachyrhizi.
A frequência de mutação C-I86F em populações de P. pachyrhizi ainda é baixa e há a possibilidade que, através do correto manejo de resistência para ingredientes ativos pertencentes a este grupo químico, estes possam continuar desempenhando boa eficiência no controle da doença, sendo mais uma alternativa para o produtor rural.
A ferrugem asiática da soja surpreende a cadeia produtiva a cada safra, pois são observados comportamentos diferentes do patógeno, tanto em questão de sensibilidade a fungicidas quanto período de ocorrência e evolução da mesma. Para a próxima safra de soja é muito difícil prever como será o comportamento desta doença tão danosa. Com isso recomenda-se que todo sojicultor siga a rigor recomendações do FRAC (Fungicide Resistance Action Committee) para que os riscos de perdas de produtividade por P. pachyrhizi sejam reduzidos ao máximo e para que se preserve a manutenção da eficácia dos fungicidas, uma tecnologia indispensável para o cultivo da soja no Brasil.
Estas recomendações são:
Esteja atento ao monitoramento constante das doenças da soja, especialmente a ferrugem, e realize as aplicações em intervalos adequados seguindo as recomendações do fabricante;
Realize a aplicação dos fungicidas de forma preventiva, sempre em associação com fungicidas multissítios (Importance of multisite fungicides in managing pathogen resistance – FRAC, Junho 2018);
Utilizar sempre misturas comerciais formadas por dois ou mais fungicidas com mecanismos de ação distintos;
Rotacione fungicidas com diferentes mecanismos de ação (Triazóis, Estrobilurinas, Carboxamidas, Morfolinas e Multissítios);
Não ultrapasse o número máximo de 2 (duas) aplicações de fungicidas de mecanismo de ação específico no mesmo ciclo de cultivo;
Utilize tecnologia de aplicação adequada;
Não plante soja “safrinha”;
Respeite o vazio sanitário e elimine as plantas voluntárias remanescentes em lavouras e beiras de estrada (guaxas);
Procure realizar o plantio na época recomendada, utilizando variedades de ciclo mais curto e se possível, com tolerância genética frente à doença;
Realize a rotação de culturas.
* Ayrton Berger Neto, Engeheiro Agrônomo, Mestre e Coordenador da Estação Experimental de Ituverava da UPL
SOBRE A UPL – A UPL, uma empresa indiana que traz soluções inovadoras e sustentáveis em proteção de cultivos para o agricultor. Fundada em 1969, a companhia atua hoje em mais de 86 países com 28 fábricas que desenvolvem e comercializam produtos da mais alta qualidade, segurança e tecnologia. No Brasil, onde atua desde 2006, conta com fábrica e estação experimental em Ituverava-SP e, foi eleita por dois anos consecutivos como uma das melhores empresas para se trabalhar pela Great Place to Work®. Por seu trabalho com produtores e pesquisadores para encontrar soluções mais eficientes para campo e através de novas formulações e produtos, equipe especializada e expansão de portfólio, a empresa conta com forte presença nos mercados de soja, milho, cana-de-açúcar, arroz, café, feijão, citros, algodão, pastagem e hortifrúti. www.uplbrasil.com.br