Desde pequenos, ouvimos que o Brasil é um país gigante, cheio de contrastes e difícil de ser medido. Esses conceitos nunca foram tão adequados quando o assunto é o tamanho da rede de pontos de varejo de produtos e insumos agropecuários espalhados pelo país. Negócios privados e lojas pertencentes às mais de 1,6 mil cooperativas do segmento, distribuídos em mais de 5.500 municípios, por 8,5 milhões de quilômetros quadrados. E não é fácil mesmo apontar com precisão o número exato que cerca essa atividade. Nenhuma entidade, empresa ou consultoria consegue cravar com exatidão. Porém, a maioria especula. Um grande produtor levando sementes de milho adquiridas em uma rede no interior de Goiás. Um pescador comprando ração no extremo oeste do Amazonas. Uma aposentada do sertão baiano levando para casa alpiste e quirela para suas galinhas e seus pássaros. A complexidade deste setor pode ser atestada mirando qualquer cantinho da nação. Como na pequena Porangaba, município encravado no interior paulista, distante 160 quilômetros da capital. A população de aproximadamente dez mil habitantes se divide ao meio entre as zonas rural e urbana, e vive essencialmente da produção familiar pecuária, de chacareiros e sitiantes, que vendem o excedente da produção. E traz a curiosa marca de, apesar do tamanho, manter um tradicional desfile das escolas de samba, todo ano, com o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Vila e a Mocidade Porangabense. Com arquibancada e tudo. Porangaba nasceu povoado, ao lado da trilha tropeira que ligava Sorocaba a Botucatu, e foi ponto de pernoite dos viajantes que faziam o trajeto entre o Oeste paulista e a Feira de Muares de Sorocaba. Pertencia a Tatuí e ganhou emancipação política apenas em 1927.
E a tradição e força da revenda agropecuária são provadas neste pedaço de lugar, onde convivem três estabelecimentos que abastecem os pequenos lavradores, criadores de gado e aves, além de donos de animais de companhia. Um deles é a Agropecuária Nova Porangaba, empreendimento tocado pela família de Paulo Vieira Pinto, de 62 anos, que foi bancário durante mais de duas décadas, no extinto Banco do Estado de São Paulo(BANESPA), até ser comprado pelo espanhol Santander, na virada deste século, durante a privatização de bancos públicos estaduais realizada dentro do programa de saneamento do sistema bancário brasileiro no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. “Quando saiu do banco, procurou uma atividade para obter receita e o antigo sócio dele propôs o negócio de comprar a loja em Porangaba”, conta Paulo Fernando Soares Vieira, 37 anos, um dos filhos. Ele é Contador e graduado em Engenharia Agronômica pela Faculdade Santa Bárbara, de Tatuí (SP). Pega no pesado ao lado do pai, da mãe, Liliana Soares Vieira, e do irmão, Vinicius Soares Vieira, de 32 anos. O outro brother mora e trabalha em um município vizinho. Todos descendentes de família de produtores rurais ali mesmo da região.
A Nova Porangaba, que foi comprada em sociedade em 2002 e hoje pertence integralmente aos Vieira, tem de tudo. Rações, equipamento de pesca, selaria, produtos veterinários, produtos para piscina e ferragens. São mais de três mil itens. Material para aves, equinos, peixes, pecuária de leite, suinocultura e um pouco de ovinocultura. E uma exclusividade em parte do portfólio para a Guabi. A maioria da comercialização é feita diretamente com os clientes, que vão até a loja. Todo mundo tem crédito, até mesmo para ‘pendurar’. Afinal, todos se conhecem. E o movimento é grande. O dia a dia do atendimento tem o reforço de cinco colaboradores, em horário comercial de segunda-feira a sexta-feira, e aos sábados, até às quatro da tarde. Negócio ‘bão’, que cresce sem parar, segundo Paulo Fernando. Tanto que já permitiu até mudança de endereço. De um barracão adquirido com outro sócio para a loja atual, na segunda rua mais movimentada da cidade. Realmente, o ponto de varejo de produtos agropecuários do Brasil é uma potência.