Eletricidade gerada a partir da palha de cana-de-açúcar pode suprir 27% do consumo residencial no Brasil

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Cálculos realizados pelo Projeto SUCRE (Sugarcane Renewable Electricity) indicam que a geração de bioeletricidade a partir da palha de cana-de-açúcar tem o potencial de produção de 35,5 TWh por ano. Esta quantidade poderia suprir 27% do consumo de eletricidade residencial no Brasil em 2016 ou abastecer quase todas as 28 milhões de residências do Estado de São Paulo, que consumiram um total de 38 TWh no mesmo ano, de acordo com dados do Balanço Energético Nacional (BEN) elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Atualmente, a eletricidade produzida a partir da biomassa é responsável por 8% da eletricidade total gerada no Brasil, que foi de 620 TWh em 2016, segundo a EPE. Portanto o uso da palha como matéria prima poderia levar a um incremento de cerca de 6% desse valor. O potencial se baseia nas premissas de produção de 140 kg de palha (base seca) por tonelada de cana-de-açúcar e de recolhimento de metade de toda a palha gerada na colheita da safra passada, em que foram processadas 612 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na região do Centro-Sul do Brasil, 93% do processamento total do País, conforme informa a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).

O Projeto SUCRE tem como principal objetivo aumentar significativamente a produção de eletricidade com baixa emissão de gases de efeito estufa na indústria de cana-de-açúcar, por meio do uso da palha produzida durante a colheita. Essa é uma iniciativa do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), que integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materias (CNPEM).

Em termos ambientais, a bioeletricidade gerada pela palha seria capaz de reduzir em cerca de 2% as emissões totais de gases de efeito estufa do Brasil ao ano. Essa estimativa leva em consideração a substituição da eletricidade produzida pelas usinas termelétricas, que são comumente acionadas quando há déficit na produção das hidroelétricas no País. O crédito ambiental estimado de 38 milhões de toneladas de CO₂eq por ano, ou seja, a emissão de gases de efeito estufa evitada, equivale à absorção de CO₂eq por 233 milhões de árvores plantadas no território brasileiro, ou 140 mil hectares de Mata Atlântica.

Gerar energia elétrica a partir da palha da cana pode ser uma das alternativas para se alcançar a meta de redução das emissões em 37% até 2025, prevista no RenovaBio, programa do governo federal que visa contribuir para o cumprimento dos Compromissos Nacionalmente Determinados (NDC) pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris, em 2015, a partir da promoção dos biocombustíveis na matriz energética brasileira.

Esses valores revelam o potencial de contribuição da palha de cana-de-açúcar para o sistema elétrico e para a diversificação da matriz energética brasileira, que é fortemente dependente de fonte hidrológica, cuja contribuição chega a 70% da oferta total de eletricidade. Por ser submetida às condições de chuva das regiões dos reservatórios das hidrelétricas, em períodos de seca essa fonte é substituída, principalmente, pelas termoelétricas a gás natural, muito mais poluentes.

As usinas de cana-de-açúcar, empresas e agências dos setores público e privado e usuários em geral poderão estimar benefícios ambientais, como esses, assim como o custo do recolhimento da palha e as receitas obtidas com a geração de eletricidade, em uma calculadora virtual que está sendo desenvolvida pelo Projeto SUCRE. Para que seja possível o cálculo, o usuário deverá inserir dados como o total de cana processada, a produtividade de palha recolhida e a distância de deslocamento da palha até a usina. A calculadora será desenvolvida a partir de resultados obtidos em análises de usinas reais que fazem parte do Projeto SUCRE. A ferramenta servirá ainda para a divulgação das potencialidades do estudo realizado e para que interessados possam entrar em contato com a equipe do CTBE para solicitar informações ou avaliações mais específicas.

Sobre o Projeto SUCRE

O Projeto SUCRE (Sugarcane Renewable Electricity) tem como objetivo principal aumentar a produção de eletricidade com baixa emissão de gases de efeito estufa (GEE) na indústria de cana-de-açúcar, por meio do uso da palha produzida durante a colheita. A iniciativa é promovida pelo Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), que atuará junto a usinas parceiras – que utilizam palha na geração de eletricidade – para desenvolver soluções que elevem tal geração à plenitude da tecnologia disponível. O projeto é financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente e gerido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Ao todo, serão cinco anos de projeto e um investimento de cerca de US$ 67,5 milhões, sendo US$ 55,8 milhões a parcela estimada de investimentos pelas usinas (grande parte já realizada com a instalação de estações de limpeza a seco, reforma ou compra de caldeiras, turbogeradores, enfardadoras e outros equipamentos). O objetivo principal do projeto é vencer os desafios tecnológicos no campo e na indústria de forma a possibilitar um maior aproveitamento da palha da cana-de-açúcar na co-geração de eletricidade. Para tanto, a equipe trabalha na identificação e na solução dos problemas que impedem as usinas parceiras de gerarem eletricidade de forma plena e sistemática.

Sobre o CTBE

O Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O CTBE desenvolve pesquisa e inovação de nível internacional na área de biomassa voltada à produção de energia, em especial do etanol de cana-de-açúcar. O Laboratório possui um ambiente singular no País para o escalonamento de tecnologias, visando a transferência de processos da bancada científica para o setor produtivo, no qual se destaca a Planta Piloto para Desenvolvimento de Processos (PPDP).

Sobre o CNPEM

O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) é uma organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Localizado em Campinas-SP, compreende quatro laboratórios referências mundiais e abertos à comunidade científica e empresarial. O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) opera a única fonte de luz Síncrotron da América Latina e está, nesse momento, construindo Sirius, o novo acelerador de elétrons brasileiro de quarta geração, dedicado à análise dos mais diversos tipos de materiais, orgânicos e inorgânicos; o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) desenvolve pesquisas em áreas de fronteira da biociência, com foco em biotecnologia e fármacos; o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia de Bioetanol (CTBE) investiga novas tecnologias para a produção de etanol celulósico; e o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) realiza pesquisas com materiais avançados, com grande potencial econômico para o país.

Os quatro Laboratórios têm, ainda, projetos próprios de pesquisa e participam da agenda transversal de investigação coordenada pelo CNPEM, que articula instalações e competências científicas em torno de temas estratégicos

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