2 de janeiro de 2017

Após recuperação, venda de fertilizantes tende a continuar firme

Depois de amargarem forte queda em 2015 e se recuperarem de forma também expressiva neste ano, as vendas de fertilizantes deverão seguir firmes em 2017 no mercado doméstico, retomando uma tendência que marca o segmento desde a década passada. Segundo analistas e executivos consultados pelo Valor, esse otimismo deriva, sobretudo, da expectativa de mais uma colheita recorde de grãos nesta safra 2016/17 no país, das boas perspectivas para a produção de cana-de-açúcar na região centro-sul e do fato de que as relações de troca de produtos agrícolas por adubos estão em geral favoráveis aos agricultores. Soja, milho e cana respondem por cerca de 75% da demanda doméstica pelo insumo.

De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), as entregas das misturadoras às revendas somaram 31.4 milhões de toneladas de janeiro a novembro de 2016, já mais do que o volume registrado em todo o ano passado (30.2 milhões de toneladas). Segundo Fabio Silveira, sócio-diretor da consultoria MacroSector, o total deste ano deverá chegar a 33 milhões de toneladas, quase 10% mais que em 2015, e para o ano que vem é razoável projetar no mínimo 34 milhões. “Esta é uma projeção mais moderada, que leva em conta a possibilidade de ter havido a antecipação de compras e de acontecerem eventos não esperados que possam diminuir as vendas – como uma forte alta de juros nos EUA, que poderá derrubar os preços das commodities de forma acentuada”, disse Silveira.

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Em 2016, a reação das vendas domésticas de fertilizantes foi impulsionada pelo aumento da oferta global e pela desvalorização do real em relação ao dólar, já que a maior parte da demanda brasileira é atendida por nutrientes importados. Nesse contexto, o poder de compra dos agricultores aumentou consideravelmente. Em 2017, a quantidade de sacas de soja necessária para pagar uma tonelada de adubo, por exemplo, deverá continuar abaixo da média dos últimos anos. “A relação de troca não deverá ser tão boa quanto foi neste ano, mas será muito melhor que a média dos últimos anos. Algo em torno de 20 sacas de soja para uma tonelada de fertilizante em Mato Grosso”, disse Carlos Mercante, diretor de marketing e vendas da americana Mosaic no Brasil.

Em 2016, diz ele, a relação de troca da soja por adubo chegou a 17 sacas por uma tonelada. “Essa relação foi um dos fatores que fizeram com que o segmento de fertilizantes não sentisse tanto o impacto da restrição de crédito”, disse.
“Diante de um clima melhor, mais favorável aos grãos nesta safra 2016/17, e com a comercialização antecipada da soja, percebemos um cenário favorável e com oportunidades para o segmento de fertilizantes no ano que vem. O crescimento das entregas de adubos no país deverá ficar entre 3% e 5% em 2017”, prevê Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria.

Ainda que os preços dos fertilizantes tendam a subir no ano que vem, a valorização prevista não deverá ser capaz de coibir as vendas no Brasil, avaliam analistas. Segundo levantamento da Scot, em São Paulo os preços dos fertilizantes nitrogenados caíram, em média, 3,2% neste ano em relação à média de 2015. Para os adubos derivados do potássio e do fosfato, os recuos foram de 2,2% e 0,8%, respectivamente. “O cenário é de preços mais firmes em 2017. Alguma recuperação é esperada, mas nada que deva alarmar o produtor”, disse Ribeiro.

Segundo o analista da Scot, a incerteza para 2017 ficará mais por conta da oscilação da cotação do dólar. Os efeitos políticos associados à eleição do republicano Donald Trump nos EUA podem levar a uma desvalorização acima do esperado da moeda brasileira e acabar representando um risco de baixa de preços para a indústria de fertilizantes. “Esse é um risco. Contudo, não há nada que indique um cenário de dólar muito diferente do nível que já temos hoje, entre R$ 3,40 e R$ 3,50”.

Na avaliação de Cleiton Vargas, vice-presidente de nutrição de plantas da Yara no Brasil – multinacional norueguesa que comprou o negócio de fertilizantes da americana Bunge em 2013 e que tem hoje 30% da operação mundial concentrada no Brasil -, o cenário de 2017 traz boas expectativas tanto para o produtor quanto para os fabricantes de insumos. “As rentabilidades das culturas melhoraram ante o último ano. Claro que há ainda muita incerteza quando você olha o ano inteiro, mas é um cenário positivo para boa parte das culturas. Nesse sentido, a gente espera ter um ano de 2017 muito parecido com 2016”, disse Vargas.

Vale destacar, finalmente, que na recuperação observada em 2016 as importações voltaram a despontar. Representaram 71,2% das entregas totais de janeiro a novembro, contra 69,8% em todo o ano passado.

Fonte: Valor Econômico

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