Crise econômica? Não no agronegócio brasileiro

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O agronegócio, após passar pela Revolução Verde, enfrenta novos desafios e oportunidades

por: Daniel Furlan Amaral e Angelo Costa Gurgel

A economia brasileira, que há bem pouco tempo era vista como porto seguro para investidores domésticos e estrangeiros, tem passado por momentos delicados. A mudança nas expectativas castiga os empreendedores e elimina drasticamente vagas de trabalho em importantes setores. O problema é maior na indústria manufatureira, especialmente a que concorre diretamente com importações.

A China, fornecedora em larga escala de artigos industriais, muitas vezes em condições desiguais de competição, provoca grandes impactos. Do ponto de vista das políticas econômica e comercial brasileira, urge, portanto, reformar as instituições para retomar a competitividade no novo cenário. A despeito das dificuldades, felizmente, um setor se destaca pela capacidade de competir internacionalmente e de manter a geração de empregos e renda no Brasil. Trata-se do agronegócio, que reúne indústrias produtoras de insumos para a agricultura, indústrias que atuam no processamento, beneficiamento, distribuição, armazenagem e em todos os demais aspectos ligados direta e indiretamente ao segmento. Lembrado pela produção de alimentos, o agronegócio também é responsável por oferecer fibras para a indústria de vestuário (algodão, linho, seda etc.) e de energia (biodiesel à base de óleo de soja e de gorduras animais, etanolda cana-de-açúcar e bioeletricidade). Essas três linhas de produtos são destinadas aos mercados doméstico e internacional, sendo que neste, o Brasil ocupa posição de destaque nas vendas de soja, milho, açúcar, etanol, carnes de aves, suína e bovina, tabaco e algodão, apenas para citar alguns exemplos.

Esse resultado favorável só foi possível graças a decisões corretas tomadas décadas atrás com a criação de institutos de ensino e de pesquisa de ponta, atração de tecnologias e processos modernos de empresas de referência no setor, ambiente competitivo propício à inovação, bem como pelo uso e manejo adequados de recursos naturais (terra, água, clima etc.). Além disso, a identificação do brasileiro com a agricultura e a natureza, relação construída ao longo da história deste país, uniu todos esses elementos em torno de um objetivo comum de tornar realidade a vocação do país para a agricultura.

O agronegócio, após passar pela Revolução Verde, enfrenta novos desafios e oportunidades. Tecnologias de melhoramento genético prometem aumentar a produtividade, conferir tolerância à seca, reduzir o ciclo plantio, produção, e colheita, e oferecer resistência a pragas, sem contar diversos outros benefícios ligados à qualidade nutricional que virão no futuro.A tecnologia da informação, por sua vez, torna o campo imenso centro de produção de alta precisão, processo semelhante ao que se observou com a automação nas fábricas no século 20.

Os recursos escassos, entre eles sementes, fertilizantes e defensivos, tendem a ser empregados na medida exata das necessidades da planta e das exigências do solo. Isso vem sendo aperfeiçoado pelo uso crescente de computadores, satélites, aviões não tripulados e máquinas agrícolas conectados a uma rede de informações otimizada para esse fim. A crise hídrica adiciona um elemento à equação cada vez mais complexa, na qual a produção de bens agrícolas deverá crescer, e muito, nos próximos anos, para atender a população maior e mais exigente.

A cobrança da sociedade pelo uso racional e sustentável dos recursos também se intensificará com a maior conscientização das pessoas. Eficiência, portanto, é a chave não só para o sucesso, mas para a sobrevivência. Logística e armazenagem seguem a mesma lógica: trabalha-se pela perda mínima de produtos tanto do ponto de vista quantitativo, quanto qualitativo. No primeiro caso, são realizados esforços para que o produto não se perca no caminho por falhas em carrocerias, esteiras etc. No segundo, o ambiente de acondicionamento deve ser tal que as variações de temperatura e umidade não tornem o produto impróprio. Isso tudo deve ser feito em um quadro de baixa ociosidade da capacidade estática dos armazéns interiores e terminais portuários, além da otimização do emprego de caminhões, trens e barcaças hidroviárias. O agronegócio mudou.

Com a rápida mudança, a percepção da sociedade ainda é de um modelo que já desapareceu ou que tende a ser substituído em pouco tempo. Porém, o novo modelo abre um mundo de oportunidades para diversos tipos de profissionais que, no passado, imaginava-se não teriam espaço nesse segmento. Tal é o caso de engenheiros, matemáticos, gestores, economistas, advogados, programadores, entre outros profissionais que, além de dominarem sua área de expertise, devem também conhecer as especificidades do agronegócio para, assim, liderarem um novo ciclo virtuoso de crescimento.

Gerente de Economia da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove); Coordenador do mestrado profissional em agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV)

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