Mudanças Demográficas, Sustentabilidade e Agronegócio. Os desafios e as oportunidades para players atuantes
Um desafio amplamente discutido em âmbito global consiste no crescimento populacional, que vem se intensificando nos últimos anos, principalmente na Ásia e África. Desde a virada do século até os dias atuais, a população mundial apresentou um crescimento de cerca de 30%, atingindo a marca de, aproximadamente, oito bilhões de habitantes, segundo dados do Banco Mundial. Apesar da ordem de grandeza relevante, a expectativa futura ainda é mais desafiadora. A projeção é de que a população mundial seja de 9,7 bilhões de pessoas até 2050 e 11 bilhões até 2100, representando um aumento significativo na demanda por recursos, como alimentos e energia. A globalização intensificou a interdependência entre os países, especialmente no que diz respeito à exportação e importação de recursos. Essa integração econômica permite que países especializados na produção de determinados recursos possam suprir a demanda global, enquanto outros dependem dessas importações para garantir sua segurança alimentar e energética. No entanto, essa dependência também expõe as nações às vulnerabilidades, como variações nos preços globais, aspectos cambiais e instabilidades políticas, ressaltando a importância de diversificar fontes de abastecimento e fortalecer as cadeias de suprimentos globais.
Essa dinâmica da globalização afetou alguns países durante a pandemia e o caso da Alemanha, em 2022, ilustra os gargalos de abastecimento energético devido à guerra entre Ucrânia e Rússia. Apesar do cenário desafiador, o incremento populacional traz oportunidades de negócios para os países que possuem recursos, tecnologia e capacidade de produção e de fornecimento para suprir a demanda global por recursos básicos. Vale salientar que o mundo tem buscado uma transição energética através do aumento de fontes sustentáveis de energia ‘limpas’ e iniciativas ESG, para mitigar os impactos das mudanças climáticas e preservar recursos naturais, além de fortalecer a resiliência econômica e social a longo prazo. Toda essa demanda e dinâmica mundial transformaram as fontes de produtos do agro – alimentos, fibras, biomassa e energia – na ‘bola da vez’ dentre os setores de várias economias. E o Brasil, consequentemente, firmou-se como um dos principais players globais do agronegócio, destacando-se não apenas como líder na produção de diversas culturas, mas, também, na exportação de alimentos e commodities.
Atualmente, o país exporta produtos agropecuários para 190 países, alimentando cerca de 800 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Além de sua expressiva capacidade de produção e exportação, o Brasil também se destaca pela sua matriz energética, com 89% de sua energia proveniente de fontes renováveis, sendo o único país do mundo a alcançar esse indicador. Além de sua força no mercado global, o agronegócio brasileiro tem se destacado na liderança da adoção de tecnologias de ponta em insumos agrícolas sustentáveis, como produtos biológicos, e na implementação de práticas dentro da porteira que promovem a sustentabilidade. Práticas como a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária, o uso de compostagem e a aplicação de fertilizantes orgânicos e organominerais não apenas demonstram um compromisso com o meio ambiente, mas também oferecem resultados rentáveis, principalmente no médio e longo prazo, contribuindo para uma produção economicamente viável e ambientalmente consciente.
Conforme mencionado no início deste artigo, as oportunidades de negócios para países e, consequentemente, para as empresas do setor, são vastas. Além das práticas citadas, mercados emergentes, como o de carbono e biocombustíveis, oferecem um potencial gigantesco e ainda pouco explorado globalmente, que pode não apenas gerar rentabilidade adicional para os players atuantes no mercado, mas também reforçar o posicionamento do Brasil como um exemplo global na produção sustentável de recursos básicos para a população mundial.
Para indústrias de insumos e tecnologias, empresas de distribuição e cooperativas, produtores e agroindústrias, a captura de valor dependerá da capacidade de definir e executar estratégias de longos prazos aderentes, e considerar esses pilares como prioridades em suas ações em busca de um agronegócio mais sustentável, produtivo e rentável. Um baita desafio! Bom Trabalho a todos!
Pedro Galvão Caserta
Consultor Associado na Markestrat Group
Matheus Alberto Cônsoli
Sócio Fundador da Markestrat e co-fundador da Harven Agribusiness Scholl

A Markestrat é uma organização que desenvolve consultoria, pesquisa e treinamento em estratégia e busca a geração e a difusão de conhecimento sobre o agronegócio brasileiro.
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