Clima desafia plantio do milho safrinha; profissionais orientam

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Nos últimos anos, o clima tem sido um dos maiores desafios para a agricultura brasileira, e o plantio do milho safrinha no Paraná não fica de fora dessa realidade. De acordo com o professor Erich Dos Reis Duarte, da Universidade Anhanguera – Bandeirantes (PR), as temperaturas elevadas e a falta de chuvas estão impactando diretamente o planejamento e a produtividade da safra.

“Estamos vivendo uma das fases mais quentes da história da agricultura no Brasil. Um aumento de 1°C já é suficiente para afetar a floração de muitas culturas, incluindo o milho”, alerta o especialista. O clima quente e seco tem atrasado o plantio em várias regiões do estado, cujo limite ideal é até 20 de março. Para piorar, as condições atuais estão longe do ideal: o milho safrinha precisa de chuvas entre 40 e 80 mm, com intervalos de 7 a 10 dias, para um bom estabelecimento inicial da lavoura.

O engenheiro agrônomo da Belagrícola Alexandre Yamamoto acrescenta que as condições climáticas atuais no Paraná são caracterizadas por um clima quente e seco, com temperaturas acima da média e precipitações abaixo da média. “Isso é resultado de um padrão climático mais amplo, que inclui fenômenos como El Niño e La Niña. Nos últimos anos, temos observado um aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como ondas de calor e secas prolongadas. Essas condições climáticas podem ter um impacto significativo na agricultura, especialmente no plantio da safra de milho safrinha”, informa.

Yamamoto alerta que a falta de chuvas e o alto índice de evapotranspiração podem levar a uma redução na disponibilidade de água no solo, o que pode atrasar o plantio e afetar a germinação das sementes. Ele reforça que é fundamental que os produtores monitorem as condições climáticas e ajustem seus planos de plantio e manejo de acordo.

Riscos agronômicos e perdas produtivas – O professor Duarte também faz coro e fala dos riscos do estresse hídrico e das altas temperaturas do solo, que representam sérios riscos para o milho safrinha. A germinação e o estabelecimento das plantas são prejudicados, levando à perda de stand (número de plantas por área) e ao aumento de pragas e doenças. “Pragas como cigarrinhas, tripes, mosca branca e percevejos se proliferam mais rapidamente em condições de calor extremo”, explica Duarte. Além disso, doenças de solo, que se beneficiam da palhada seca, também se tornam mais frequentes.

O atraso no plantio é outro fator crítico. Segundo o professor, a cada dia de atraso a partir de 1º de janeiro, há uma perda de 0,6 saca por hectare. As temperaturas têm sido consistentemente acima de 25°C, e a umidade relativa tem sido abaixo de 50%. Além disso, a falta de chuvas tem deixado o solo seco, com níveis de umidade abaixo de 10% no horizonte de 0 a 20 cm. Yamamoto complementa enfatizando que condições ideais para o plantio do milho safrinha são entre 18°C e 25°C e uma umidade adequada de solo entre 20% e 30% no horizonte de 0 a 20 cm.

Soluções e inovações – Diante desse cenário, a pesquisa e a inovação têm sido aliadas fundamentais. Cultivares mais tolerantes ao estresse hídrico e ao calor já estão disponíveis no mercado. Além disso, práticas de manejo integrado, como o uso de bioinsumos (fungos, bactérias e extratos de plantas), têm mostrado resultados promissores, como destaca o professor Duarte.

O produtor, no entanto, precisa estar atento e fazer um bom manejo de fertilidade do solo. “Fazendo um bom diagnóstico do solo, com análises física, química e biológica para tomar decisões de manejo importantes, como, por exemplo, rotação de cultura, utilização de plantas de cobertura em áreas de maior necessidade, equilibrar a adubação sempre equalizando o investimento, são decisões muito importantes para o agricultor em todo início de safra. No inverno se tornam mais necessárias porque são culturas de alto risco por estarem posicionadas num período de menor volume de chuva e não sabemos exatamente os impactos dos fenômenos climáticos. Por isso, o agricultor precisa fazer a parte dele. Para ficar menos refém do clima, é importante que ele entenda a importância de se cuidar da saúde do solo”, salienta Yamamoto.

Riscos constantes – Outra orientação é estar atento ao controle de plantas daninhas, pragas e doenças, além de outros possíveis problemas durante o desenvolvimento do milho. “O produtor pode ter resistência em fazer aplicação por conta da situação climática seca, mas ele tem que ter um controle de pragas para possibilitar o desenvolvimento da cultura”, diz a coordenadora de Tecnologia e Nutrição da Belagrícola, Letícia Ferreira.

Plantas Daninhas – As plantas daninhas competem diretamente com a cultura do milho por água, luz e nutrientes e ainda servem de abrigo e refúgio para as pragas que causam danos econômicos. O controle deve ser realizado antes do fechamento das linhas da cultura, com as plantas daninhas e tigueras de soja ainda pequenas, sendo de extrema importância para o estabelecimento da lavoura.

Percevejo e Cigarrinha – O percevejo Barriga Verde (Dichelops furcatus e D. melacanthus) e a Cigarrinha do Milho (Dalbulus maidis) estão entre as principais pragas do milho e em caso de ataque, o produtor deve solicitar ajuda técnica. O percevejo Barriga Verde, pela saliva, injeta toxinas na planta que prejudicam o seu sistema de crescimento. Em ataques severos, ocorre a morte da planta, o chamado “coração morto”. Segundo Letícia Ferreira, o período crítico de danos vai desde a emergência da planta até o estágio fenológico V3 (terceira folha completamente desenvolvida, com o “colar” visível). Nesta fase, o controle deve ser realizado quando o produtor encontrar 0,8 percevejos/m², pois este estágio vegetativo da planta é altamente suscetível devido ao menor calibre de colmo, o que permite que o estilete da praga atinja diretamente o ponto de crescimento, aumentando a probabilidade de ocasionar o “coração morto”. Porém, o potencial de danos se estende até o estádio V6 (seis folhas com colar visível).

Outra praga preocupante é a Cigarrinha, que contamina a planta do milho com molicutes (microorganismos), que ocasionam o enfezamento pálido (espiroplasma) e o enfezamento vermelho (fitoplasma). Os sintomas que aparecem são lesões necróticas e o enrolamento das folhas evoluindo para o enfraquecimento da planta, deformação e redução do porte na espiga e, em casos severos, a morte da planta. “Como não é possível identificar a campo quais cigarrinhas estão contaminadas com os molicutes, não há um nível de controle seguro para a praga, devendo ser realizado de acordo com a presença do inseto na lavoura. O potencial de dano crítico ocorre desde a emergência até V8, podendo se estender até VT (pré-pendoamento)”, explica a técnica da Belagrícola, que orienta associar o controle químico com o biológico, no combate à praga, trabalhar a indução de resistência das plantas e alternativas mais eficazes, para manter as pragas abaixo do nível de dano econômico e as plantas de milho menos suscetíveis às avarias causadas pelos insetos.

A coordenadora de Tecnologia e Nutrição da Belagrícola comenta que o controle químico tem uma ação mais rápida, porém com residual menor, já os microrganismos como Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae e Isaria fumosorosea são bioinseticidas altamente eficazes no parasitismo das pragas, com potencial de manter a ação por mais tempo na lavoura. “Além disso, podemos lançar mão de produtos que induzem as plantas a se tornarem mais resistentes ao ataque de pragas e doenças, dentre eles estão os fosfitos (de cobre, de manganês, de potássio), compostos salicílicos e alguns aminoácidos que atuam no sistema de defesa das plantas”, complementa Letícia.

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