Em 2024, o agronegócio brasileiro movimentou US$ 152,63 bilhões em exportações, o que corresponde a 48,9% do total das exportações do país. Esse valor foi o segundo maior da série histórica, porém o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos reacende discussões sobre a guerra comercial entre os EUA e a China, um movimento que pode trazer impactos significativos para o agronegócio brasileiro. Em termos de exportações, a China é o maior mercado para o agronegócio brasileiro, representando 32% do faturamento total, enquanto a União Europeia e os Estados Unidos seguem com 16% e 7%, respectivamente.
Durante o primeiro mandato de Trump, iniciado em 2018, os EUA impuseram tarifas de 25% sobre US$ 50 bilhões em produtos chineses, levando a China a retaliar com tarifas sobre produtos agrícolas americanos, como a soja. Esse contexto beneficiou o Brasil, que aumentou suas exportações de soja para a China em 35% no mesmo ano, atingindo volumes recordes de 83 milhões de toneladas. Além disso, a participação da China nas importações de soja brasileira aumentou significativamente, passando de 46% em 2016 para 76% em 2024.
Enquanto as tensões comerciais entre as duas potências crescem, o Brasil se posiciona novamente como um potencial beneficiário em setores estratégicos como soja, milho e proteínas animais, incluindo carne bovina, suína e de aves, produtos já amplamente demandados pelo mercado chinês. Segundo Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, a relação de codependência entre Estados Unidos e China é difícil de ser superada. “Enquanto os chineses tentam fomentar seu mercado interno para consumir mais seus próprios produtos, os EUA buscam reduzir a dependência das importações chinesas; contudo, os resultados dessas estratégias têm sido limitados”, afirma. Nesse contexto, tarifas adicionais impostas por Trump podem impulsionar a competitividade dos produtos brasileiros, mas também geram incertezas sobre a estabilidade do mercado global.
Além do mercado chinês, outros países podem se beneficiar de uma ampliação do comércio com o Brasil. Na visão de especialistas, o país ocupa uma posição estratégica para economias que buscam diversificar fornecedores e reduzir a dependência dos EUA. Segundo Vasconcellos, é essencial que o Brasil amplie sua base de parceiros comerciais. “O acordo entre União Europeia e Mercosul é um passo importante, mas o trabalho deve continuar, especialmente com mercados emergentes como a Índia, que têm demonstrado grande potencial de crescimento.”
No entanto, os desafios também são significativos. A desaceleração econômica da China, combinada com a queda nos preços de commodities como o minério de ferro, pode gerar pressões de curto prazo. Ainda assim, o agronegócio brasileiro tem espaço para diversificar sua atuação global e mitigar impactos adversos, desde que conte com uma estratégia de diplomacia comercial bem estruturada.
Em 2024, o Brasil exportou 2,89 milhões de toneladas de carne bovina, gerando receitas de US$ 12,8 bilhões, com destaque para a China, que representou US$ 6 bilhões desse total. Com a intensificação da disputa entre EUA e China, o Brasil pode transformar riscos em oportunidades, consolidando-se como um dos principais players no cenário agrícola global. O equilíbrio entre aproveitar as brechas geradas pela guerra comercial e proteger sua economia contra instabilidades será determinante para o futuro do setor.
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