Disponibilidade de matéria-prima é desafio para biodiesel

Compartilhe:

Biodiesel production is the process of producing the biofuel, biodiesel, in laboratory
Biodiesel production is the process of producing the biofuel, biodiesel, in laboratory

A partir de março desse ano o mercado brasileiro terá um aumento da mistura de biodiesel ao diesel convencional de 14% para 15%, conforme estipulado pela Lei do Combustível do Futuro, sancionada no segundo semestre de 2024. A disponibilidade de óleo de soja e de gorduras animais, principais matérias-primas utilizadas para a produção de biodiesel, foi discutida na 10ª live da série “Conexão SCA Brasil”, apresentada nesta terça-feira, 21 de janeiro, e já disponível nos canais digitais da SCA Brasil. O programa teve a participação do head de biodiesel da SCA Brasil, Filipe Cunha, e dos convidados especiais Eduardo Vanin, diretor da Agrinvest, e Alexandre Melo, especialista em biodiesel e insumos para o Brasil e Argentina da S&P Global Commodity Insights.

“Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP), até novembro de 2024 o mercado cresceu 3,4%. As vendas do biodiesel aumentaram 24% em relação ao ano anterior, atingindo 8,5 bilhões de litros até novembro. E o mais importante, sem registro de problema de abastecimento”, ressaltou Filipe Cunha.

Cunha estimou que com a mistura de 15% e potencial crescimento de 3% no mercado de diesel, haverá um aumento de 1 bilhão de litros na demanda por biodiesel em 2025, com crescimento de 720.000 m3 de óleo de soja, se mantida sua participação de 74% do volume de matérias-primas utilizadas na produção do biodiesel, como ocorrido em 2024.

Para 2025, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e diversas tradings, espera-se uma safra recorde de soja em torno de 170 milhões de toneladas, ou seja, uma boa disponibilidade da principal matéria-prima para a produção de biodiesel. “No entanto, o grande gargalo da indústria é o esmagamento do grão para a extração do óleo, e ano passado estivemos muito próximos do limite”, frisou Cunha.

“Para garantir os 720.000 m3 adicionais de óleo de soja, as indústrias teriam de aumentar a capacidade de esmagamento em 4 milhões de toneladas já em 2025. Será que teremos esses investimentos prontos para o ano? Se não, os óleos de origem animal conseguiriam ocupar esse gap?”, disse Cunha.

O cenário é positivo, mas requer atenção cuidadosa às flutuações do mercado e políticas comerciais. A análise é que, em relação ao óleo de soja, a oferta é confortável no primeiro semestre, com risco de redução na segunda metade do ano. Quanto aos óleos de origem animal, há uma tendência de aumento de demanda, com consequente elevação de preços, mas o mercado pede ajustes na produção.

Efeito TrumpA posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, entretanto, traz incertezas em relação a tarifas e políticas energéticas, com aumento do foco em combustíveis fósseis. A demanda e preço dos óleos de origem animal e outros óleos podem ser afetados, bem como o equilíbrio do mercado global. As mudanças preconizadas por Trump podem desencadear ainda tensões comerciais, influenciando preços e disponibilidade de grãos.

Por tudo isso, Alexandre Melo enxerga um cenário volátil pela frente. “O que realmente movimenta o mercado são a competitividade e os preços. O Brasil, com uma safra abundante, atrai compradores como a China, que deve intensificar as compras de soja no Brasil, enquanto os Estados Unidos impõem restrições à importação de óleo de cozinha usado chinês, por exemplo”, analisa. Ele lembra que o sebo bovino também é insumo importante para outros setores como a indústria de higiene e limpeza, e para o SAF, combustível para aviação sustentável, nos Estados Unidos. “A gente enxerga um início do ano confortável em relação à disponibilidade de matérias-primas, mas acionamos um ‘alerta amarelo’ para o segundo semestre”.

Recentes mudanças na regulamentação de créditos fiscais nos EUA impactam a demanda por sebo bovino e outros óleos usados em biocombustíveis avançados. O recente aumento de US$ 20 por tonelada no preço do sebo no Porto de Santos, para US$ 1.045 por tonelada, reflete o interesse dos EUA em assegurar volumes da América Latina, tendo o Brasil como o principal fornecedor. “A valorização do dólar favorece exportações brasileiras, apesar de o preço do sebo estar mais atrativo nos EUA, mas a demanda é firme. O cenário oferece oportunidades para o sebo, mas precisamos entender como ficará o acordo entre o Brasil e EUA, firmado no ano passado, para habilitar coletadores de óleo de fritura brasileiros a exportarem o insumo”, concluiu Melo.

No caso da soja, há conjunturas que podem ser vistas com bons olhos segundo Eduardo Vanin da Agrinvest. “A safra passada foi de 154,5 milhões de toneladas, e se a projeção é de 170 milhões, mesmo com as questões climáticas adversas, vemos um bom crescimento”. Ele projeta um crescimento de 2,6% no esmagamento do grão, com novas usinas contribuindo para a oferta de óleo de soja no primeiro semestre. “As projeções para o segundo semestre dependem de algumas variáveis”, pontuou.

Na complexa dinâmica do mercado de soja, a China desempenha um papel central, comprando soja de três formas: por meio das crushers privadas, para reservas e como gesto diplomático (“compra de carícia”). “O Brasil se destaca por oferecer soja mais barata e de alta qualidade, o que a torna atraente, independentemente das tensões comerciais”, diz Vanin.

O aumento gradual das demandas por biodiesel e em consequência, da produção de insumos, tem como lastro a Lei do Combustível do Futuro, vista como passo importante para a indústria por garantir previsibilidade e segurança para ampliação de investimentos.

Conformidade na mistura – Ponto nevrálgico citado por todos os participantes do programa é a persistente falta de conformidade na mistura de biodiesel, com impacto nas previsões de colheita e no mercado como um todo. “É um ponto crucial, especialmente com a obrigatoriedade dos 15% no diesel. A ANP enfrentou cortes orçamentários, mas agora está retomando as inspeções. É essencial expandir e fortalecer a fiscalização para garantir um mercado isonômico e seguro”, alertou Cunha.

Para ele, a não conformidade pode prejudicar o potencial do biodiesel, mesmo com a introdução do B-15. Todos concordaram que a fiscalização rigorosa pela ANP é essencial para garantir que todos joguem de acordo com as regras, evitando a concorrência desleal e preços artificiais.

Filipe Cunha destacou a atenção especial que deve ser dada no acompanhamento dos testes dos motores ao longo do ano para comprovar a viabilidade técnica exigida na Lei do Combustível do Futuro para a continuidade da evolução da mistura até 25%. As associações dos produtores de biodiesel pleitearam do governo que o foco deveria estar na mistura até 20% para garantir a implementação do B16 em março de 2026, enquanto os testes para misturas mais altas ficam para um segundo momento, lembrando que o debate deve incluir não apenas testes de motores, mas também impactos ambientais, de saúde e emprego, para assegurar investimentos sustentáveis. A previsibilidade, segundo Cunha, é fundamental para incentivar novos investimentos em capacidades de esmagamento, dado o tempo necessário para licenciamento e operação de novas plantas.

Transmitidas ao vivo pelos canais da SCA Brasil no YouTube e no LinkedIn, as lives da série ‘Conexão SCA Brasil’ foram criadas para examinar assuntos de destaque no contexto do agronegócio nacional, com prioridade para temas próximos dos combustíveis renováveis e das compras corporativas em grupo, principais áreas de atuação da SCA Brasil. Agendas transversais e de ampla relevância para o agro também são abordadas, sempre com convidados especiais de reconhecida competência e qualidade. Além do YouTube e do LinkedIn, todas as edições também estão disponíveis em formato de podcast na página da série na plataforma Spotify.

plugins premium WordPress

Obrigado!

Seu e-mail foi cadastrado com sucesso.

Agora você saberá nossas novidades em primeira mão.