As duas maiores regiões produtoras de café no Vietnã são Dak Lak e Lam Dong, ambas situadas mais ao sul do país. Durante a viagem que realizamos ao país, em dezembro, identificamos distinções importantes entre as localidades visitadas, especialmente em relação ao tamanho dos produtores, à extensão das áreas de cultivo e às condições das lavouras. Diante do cenário atual, que envolve histórico, condições climáticas e a produção que pudemos verificar junto aos produtores, mantemos nossa estimativa de 27,1 milhões de sacas para a safra vietnamita 24/25.
Dak Lak: onde estão os pequenos e médios produtores
Durante a visita a Dak Lak, observamos que predominam pequenos e médios produtores, que cultivam pimenta, durião e outros frutos junto ao café. Nos últimos anos, pequenos agricultores reduziram áreas de café para plantar durião, enquanto médios produtores investiram em variedades mais produtivas. No entanto, o clima adverso, com períodos secos seguidos de chuvas excessivas, atrasou a maturação e a colheita, além de favorecer a proliferação da cochonilha. Isso ocorre porque as precipitações podem atrasar a secagem do café e afetar a sua qualidade.
Esses fatores, somados às dificuldades na secagem, devem impactar a qualidade e a produção, com perdas estimadas entre 10% e 50%, especialmente entre os agricultores mais vulneráveis. Os produtores mais pobres já começaram a vender sua safra e devem comercializar toda a produção assim que os grãos estiverem secos, enquanto os médios venderam cerca de 10% a 30% e planejam segurar os estoques até que os preços atinjam novos recordes.
Segundo os agricultores, preços em torno de 100.000 VN dong por kg permitem novos investimentos, mas a faixa de 130.000 a 140.000 VN dong por kg é vista como ideal para novas vendas. Muitos acreditam que fevereiro será um bom momento para comercializar, devido à entressafra no Brasil e na Indonésia, que pode favorecer uma alta nos preços.
As chuvas recentes estimularam uma floração precoce em grande parte das áreas de café em Dak Lak, mas ainda é cedo para avaliar se isso impactará negativamente a safra 25/26. Apesar de a floração inicial ter se extinguido, as árvores mostram sinais de estarem prontas para uma nova florada na região.
Lam Dong: região onde predominam os grandes produtores
Ao chegarmos a Lam Dong, a segunda maior produtora de robusta no Vietnã, verificamos uma perspectiva mais positiva, com grandes e prósperos agricultores, muitos focados apenas no café. As condições climáticas foram favoráveis, além dos lucros de safras passadas, permitiram o uso contínuo de fertilizantes e pesticidas, além da introdução de variedades mais produtivas por enxerto.
Essas variedades, mais saudáveis e geralmente mais altas que as de Dak Lak, têm colheita tardia, que ocorre entre novembro e janeiro, com a maioria dos agricultores aguardando até que 80% dos grãos estejam maduros. Ainda, garantem alta produtividade e estabilidade, com a renovação constante das plantações.
Além disso, a população de cochonilhas foi menor que em Dak Lak, causando pouco impacto na produção, e a produtividade da região se destaca como uma das maiores do Vietnã, mostrando-se menos vulnerável às adversidades climáticas.
As vendas de café em Lam Dong foram menores do que em Dak Lak, já que os produtores, com bons lucros das safras anteriores, não têm pressa em comercializar. Apenas 2% a 15% da colheita foi vendida, e muitos planejam reter os estoques até fevereiro ou até que o preço alcance, no mínimo, 130.000 VN dong por kg. Caso o preço-objetivo não seja atingido, alguns agricultores podem adiar as vendas até maio, quando começam os investimentos para a safra 25/26.
Laleska Moda é analista de Café na Hedgepoint Global Markets.
