Inteligência artificial e o futuro dos negócios: como evitar armadilhas?

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Carine Bruxel 1

A Inteligência Artificial (IA) tem sido a protagonista das inovações tecnológicas nos últimos anos, oferecendo soluções poderosas para empresas de todos os portes. Segundo o levantamento “O Impacto da Pesquisa em 2024”, realizado pelo Instituto dos Engenheiros Eletrônicos e Eletricistas (IEEE), mais de 60% dos respondentes acreditam que a tecnologia é a principal tendência em inovação em 2024. Além disso, de acordo com um levantamento da Honeywell, 64% dos entrevistados dizem que ganhos de eficiência e produtividade estão entre os principais benefícios do impacto da ferramenta no local de trabalho. 

O uso da IA permite redução de custos em ambientes economicamente incertos, ajudando a aliviar cargas de trabalho, remover barreiras administrativas e melhorar a prestação de serviços. No entanto, ao mesmo tempo que traz oportunidades promissoras, ela apresenta desafios que, se não forem cuidadosamente considerados, podem desviar o foco das organizações e impedir que alcancem seus objetivos mais valiosos. Em meio à crescente dependência dessas tecnologias, é essencial entender que a ferramenta deve ser uma aliada estratégica e não uma força que domina o negócio. A pergunta que surge, então, é: como utilizar a inovação, sem perder de vista a essência humana e o propósito que move as empresas?

A IA revolucionou a forma como trabalhamos e interagimos com o mundo, oferecendo desde automação de processos até análises de dados em escala sem precedentes. Um exemplo é a automatização de diversos sistemas que, ao serem interligados, economizam tempo, diminuem erros e fornecem um fluxo de informações de forma mais acessível, estruturada e rápida. No entanto, a adoção acelerada dessa tecnologia pode levar a um erro comum: acreditar que a solução resolverá todos os problemas.

A verdadeira armadilha está no “tecno-solucionismo”, uma crença que tenta nos convencer de que qualquer problema, seja social, econômico ou político, pode ser resolvido apenas com tecnologia. O entusiasmo pela automação faz com que as empresas percam de vista o que realmente as diferencia — o capital humano e as nuances contextuais. Claro, a IA executa muitas tarefas melhor que as pessoas, a custo zero, e assumirá boa parte da manufatura, entrega, design e marketing. Além disso, veículos autônomos, tarefas domésticas, serviços braçais e especializados podem ser realizados sem que os operadores fiquem doentes, sem reclamar, sem pausa e sem receber. Mas não podemos esquecer que a criatividade, empatia e adaptabilidade dos seres humanos são essenciais, especialmente em momentos em que o contato e o relacionamento são fatores determinantes.

Como podemos implementar a IA de forma consciente?
Antes de qualquer implementação de IA, é essencial definir com clareza os objetivos que se deseja alcançar. A tecnologia deve ser utilizada como uma ferramenta que apoia os objetivos estratégicos da empresa, em vez de ser uma solução à procura de problemas. O foco precisa estar sempre em como ela pode gerar valor real e aprimorar as operações de forma concreta e mensurável.

Embora a IA seja extremamente eficiente em tarefas repetitivas, ela não pode substituir a nossa sensibilidade. Empresas que conseguem equilibrar a automação com interações humanas genuínas conquistam mais confiança e lealdade, tanto de clientes quanto de colaboradores. De acordo com uma pesquisa da PwC, 64% dos respondentes acreditam que a falta de elementos humanos nas interações e comunicações com seus usuários saiu de controle. Em um mundo cada vez mais digital, esse toque se torna ainda mais valioso, sendo um diferencial competitivo importante.

A implementação da IA precisa ser acompanhada por uma governança sólida, com diretrizes claras sobre privacidade, segurança de dados e responsabilidade ética. As organizações devem contar com um plano bem estruturado para assegurar que as decisões automatizadas estejam sempre em sintonia com os valores humanos e corporativos, evitando riscos e garantindo transparência.

Além disso, a capacitação digital é fundamental. A alfabetização tecnológica deve ser uma prioridade para líderes e equipes, pois a IA não deve ser vista como um mistério técnico reservado a especialistas. Quando compreendida por todos os envolvidos na tomada de decisões estratégicas, ela se torna uma ferramenta poderosa. Investir no desenvolvimento e treinamento de colaboradores é essencial para que a empresa como um todo esteja preparada para enfrentar as oportunidades e os desafios dessa nova era.

No mundo contemporâneo, a IA ajuda as empresas a oferecerem aos funcionários flexibilidade de trabalho, maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional e um ambiente saudável. Segundo a pesquisa “Índice de Relacionamento com o Trabalho HP“,  colaboradores que utilizam esse tipo de solução são 11 vezes mais felizes em suas relações de trabalho se comparados àqueles que não utilizam a tecnologia. A IA permite alocar as pessoas certas nos lugares certos, valorizando as habilidades humanas como criatividade, intuição, curiosidade, sentimento e empatia.

Como podemos desenvolver confiança?
Uma das principais barreiras para a adoção eficaz da IA é a falta de infraestrutura digital e a qualidade dos dados. Organizações que não investirem em uma base tecnológica sólida correm o risco de enxergá-la como uma promessa não cumprida. Além disso, a desinformação sobre como a tecnologia pode realmente ser usada — sem os exageros e temores que acompanham muitas discussões sobre o tema — ainda é um obstáculo. É preciso reforçar a confiança digital e enfrentar a resistência cultural. É essencial construir uma cultura de confiança digital, em que líderes e colaboradores confiem na tecnologia, mas sempre com um olhar crítico. A IA precisa ser um apoio, não uma solução que se torna um fim em si mesma.

Como valorizar o humano em um mundo automatizado
Acredito que a simbiose entre IA e humanidade seja a chave para o futuro do trabalho, e chamamos isso de “o novo humano” — um conceito que reconhece a solução como uma ferramenta para potencializar as capacidades humanas, sem substituir o que temos de mais valioso: nossa empatia, intuição e criatividade. A tecnologia aliviará a carga de trabalho em áreas repetitivas e administrativas, permitindo que as pessoas concentrem seu tempo e energia no que é verdadeiramente significativo.

Neste novo cenário, as habilidades humanas serão mais demandadas do que nunca. Profissionais criativos, curiosos e capazes de resolver problemas complexos serão essenciais em um mundo onde as máquinas lidam com as tarefas operacionais, mas os humanos criam soluções inovadoras, geram conexões e interpretam dados com sensibilidade.

O Fórum Econômico Mundial prevê que até 2025, a ferramenta e a automação podem substituir 85 milhões de empregos, mas criarão 97 milhões de novos papéis, focando em habilidades como análise de dados, IA e aprendizado de máquina. Uma vez que a superinteligência da tecnologia ultrapasse a inteligência humana, teremos a possibilidade Sde resgatar nosso valor humano, que é único.

A IA é, sem dúvida, uma das maiores inovações de nossa era, mas seu uso consciente determinará o sucesso ou o fracasso de muitas empresas. O segredo está em adotá-la como uma ferramenta estratégica, que apoia os objetivos do negócio sem ofuscar a importância do capital humano. O futuro nos reserva muitas oportunidades, mas cabe a nós, como líderes, garantir que esse horizonte seja moldado de forma ética, equilibrada e centrada nas pessoas.

Estamos em um ponto crucial de transformação, onde a  tecnologia e humanidade devem caminhar juntas. O grande diferencial virá para aqueles que souberem utilizar a IA para liberar o potencial humano — porque, no fim, são as pessoas que continuarão a inovar, criar e transformar o mundo ao nosso redor.

Carine Bruxel é fundadora e CEO da Bluebird Think Tank.

 

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