À medida que as mudanças climáticas se intensificam, seus impactos em setores críticos como o agroalimentar estão se tornando mais visíveis e preocupantes. Esse cenário leva empresas, agricultores e investidores a repensar suas estratégias de crescimento e sustentabilidade com uma nova e inevitável variável: as mudanças climáticas. Entender e mitigar os riscos climáticos se tornou uma necessidade urgente, não apenas para garantir a longevidade dos negócios, mas também para construir um sistema alimentar mais resiliente.
Esses riscos não discriminam entre regiões, riqueza ou tamanho da entidade envolvida. O que impacta pequenas fazendas afeta igualmente grandes corporações agrícolas. E o mais importante, não podemos esperar resultados diferentes se continuarmos operando da mesma forma. Inovação e tecnologia são pilares essenciais para uma transformação eficaz. Para enfrentar esse desafio global, é necessário adotar práticas disruptivas e produzir de forma diferente, adaptando-se às mudanças e integrando soluções modernas para garantir a resiliência do setor agroalimentar.
Riscos Climáticos: Físicos e de Transição
Riscos climáticos referem-se a ameaças resultantes de mudanças climáticas que podem impactar diretamente a economia, infraestrutura e ecossistemas. Eles são divididos em duas categorias principais: riscos físicos e riscos de transição.
Riscos Físicos: São ameaças diretas decorrentes de mudanças climáticas, incluindo eventos extremos como secas prolongadas, inundações, ondas de calor e elevação do nível do mar. Esses fenômenos têm impacto imediato na produção agrícola, levando a perdas de safras, escassez de água e degradação da terra. No Brasil, por exemplo, a seca no Cerrado e as inundações nas regiões Sul e Sudeste afetam drasticamente a produtividade de grãos, café e outras commodities importantes. Além disso, o aumento das temperaturas globais pode alterar os padrões de cultivo, criando vulnerabilidade generalizada na cadeia de suprimentos agrícolas.
Riscos de Transição: Estão associados à mudança para uma economia de baixo carbono. Eles surgem à medida que governos, empresas e consumidores pressionam por regulamentações mais rígidas e mudanças nos hábitos de consumo. Um exemplo inclui novos requisitos para práticas agrícolas regenerativas que incentivam a redução das emissões de carbono e o uso eficiente de insumos, promovendo uma transição para métodos agrícolas mais sustentáveis. Essa pressão pode aumentar os custos operacionais para empresas que não adotam práticas sustentáveis ou resistem a mudanças.
A importância de incorporar riscos climáticos
A incorporação de riscos climáticos no planejamento estratégico das empresas, especialmente no setor agroalimentar, não é mais opcional. É uma necessidade para garantir a resiliência dos negócios. As empresas que negligenciam a mitigação desses riscos enfrentam impactos financeiros significativos, que vão desde a volatilidade do fornecimento até a exposição a processos regulatórios. Para o agronegócio em particular, onde os ciclos de produção estão intrinsecamente ligados às condições climáticas, não se adaptar significa se expor a perdas econômicas, redução da competitividade e até mesmo comprometer a segurança alimentar.
Além disso, os investidores estão cada vez mais exigindo fortes práticas ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG) das empresas. De acordo com um relatório da McKinsey, empresas com gestão ESG robusta tendem a ser mais resilientes às mudanças de mercado e mais atraentes para investidores de longo prazo. Portanto, integrar práticas de mitigação climática e desenvolver estratégias de adaptação são essenciais para garantir a longevidade e o crescimento sustentável.
O papel da inovação e da tecnologia na resiliência climática
A inovação tecnológica é a espinha dorsal da resiliência climática no setor agrícola. Tecnologias emergentes, como insumos biológicos, plataformas agrícolas digitais e agricultura de precisão, estão transformando a forma como os agronegócios enfrentam os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Esses avanços melhoram a eficiência dos recursos financeiros, ambientais e sociais, ao mesmo tempo em que permitem uma melhor gestão dos impactos climáticos.
Os insumos biológicos oferecem alternativas sustentáveis aos fertilizantes químicos, ajudando a preservar a saúde do solo e a resiliência das culturas contra pragas e condições climáticas adversas. Os sistemas de gestão digital permitem o monitoramento em tempo real das culturas, otimizando o uso de insumos e permitindo que os agricultores tomem decisões mais precisas e baseadas em dados.
As agfintechs desempenham um papel fundamental na facilitação dessas boas práticas, fornecendo acesso a soluções financeiras inovadoras. Elas possibilitam a aquisição de insumos e tecnologias alternativas, ao mesmo tempo em que promovem a inclusão financeira para pequenos e médios produtores, que são os mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Essas inovações são vitais para que os agricultores continuem produzindo de forma sustentável, aumentando sua resiliência e garantindo a sustentabilidade a longo prazo, mesmo diante de condições climáticas imprevisíveis.
O papel crucial dos investidores de capital de risco
Os investidores de capital de risco detêm uma posição estratégica e essencial na aceleração da transição para uma agricultura resiliente ao clima. O capital de risco desempenha um papel crucial no fomento de inovações disruptivas, como soluções tecnológicas, práticas agrícolas regenerativas e alternativas sustentáveis. Investir em AgFoodtechs — empresas que integram tecnologia e agricultura — vai além dos retornos financeiros tradicionais. Também representa uma oportunidade significativa de impactar positivamente a sustentabilidade e a resiliência climática em larga escala.
A SP Ventures se destaca como um ator-chave na promoção dessas inovações no setor agroalimentar. Ao investir em startups que desenvolvem agri-fintechs, insumos biológicos e tecnologias de cadeia de valor, a SP Ventures está ajudando a transformar a maneira como a agricultura é conduzida. Isso inclui a digitalização de processos, maior eficiência no uso de insumos e maior acesso ao crédito para pequenos e médios produtores, que muitas vezes são marginalizados pelo sistema tradicional.
Além disso, os investimentos em insumos biológicos promovem uma agricultura mais regenerativa, melhorando a saúde do solo e reduzindo a dependência de fertilizantes químicos, ao mesmo tempo em que atenua os efeitos das mudanças climáticas. As agri-fintechs trazem soluções financeiras que permitem que os agricultores adotem novas tecnologias, otimizem suas operações e se tornem mais resilientes às adversidades climáticas. As tecnologias da cadeia de valor, por outro lado, conectam os agricultores aos mercados de forma mais eficiente, aumentando a transparência, a rastreabilidade e a segurança alimentar.
Em um cenário em que os riscos climáticos afetam todos os elos da cadeia de produção agrícola, a SP Ventures está comprometida em construir um futuro agroalimentar mais inclusivo, sustentável e resiliente. Ao apoiar o desenvolvimento de soluções tecnológicas de ponta, eles estão contribuindo diretamente para a transformação das práticas agrícolas em larga escala, ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas e criando cadeias de valor mais robustas e preparadas para os desafios futuros.
Enfrentando o desafio climático juntos
Os riscos climáticos representam um dos maiores desafios do nosso tempo, especialmente para o setor agroalimentar. A inovação, o investimento em tecnologia e a integração de práticas sustentáveis são fundamentais para garantir que as cadeias de produção resistam às adversidades climáticas e continuem a alimentar o mundo. Os investimentos de capital de risco desempenham um papel crucial na aceleração dessa transição, incentivando o desenvolvimento de soluções que não apenas mitiguem os riscos, mas também criem oportunidades de crescimento sustentável.
Vamos continuar trabalhando juntos para construir uma cadeia de valor agrícola mais resiliente, capaz de enfrentar os desafios de um mundo em mudança.
Juliana De Podestá é responsável por ESG e Impacto na SP Ventures.