A fintechzação no setor agropecuário representa uma transformação significativa na forma como os produtores rurais acessam e utilizam serviços financeiros. Este fenômeno está intimamente relacionado à digitalização e à adoção de soluções inovadoras que buscam atender às necessidades específicas do agronegócio, um dos pilares da economia brasileira. A introdução das agfintechs, fintechs voltadas para o setor agro, é uma das principais responsáveis por essa mudança, permitindo uma oferta de crédito mais rápida, menos burocrática e ajustada ao ciclo produtivo agrícola.
As instituições financeiras tradicionais muitas vezes não compreendem plenamente as particularidades do setor agro, resultando em produtos financeiros inadequados ou inacessíveis para muitos produtores. As agfintechs, ao contrário, têm a capacidade de utilizar métricas e informações específicas do agronegócio, como dados de produção e previsão de safras, para analisar o risco e determinar a capacidade de crédito de forma mais assertiva. Isso permite que o crédito oferecido seja mais adequado à realidade dos produtores, considerando as particularidades do campo, como a sazonalidade e os riscos inerentes ao setor. Para os pequenos e médios produtores, que muitas vezes encontram barreiras ao tentar acessar crédito por vias convencionais, as fintechs surgem como uma alternativa viável e personalizada, promovendo maior inclusão financeira e democratizando o acesso a recursos.
Segundo o AgTech Report 2023, mapeamento da Distrito que traz informações sobre o ecossistema das startups voltadas ao agronegócio na América Latina, os “bancões” podem demorar até 4 meses para a concessão de crédito, sendo que, em algumas agfintechs, esse processo cai para até 48 horas. O mesmo relatório aponta que já foram investidos US$ 190 milhões nessa categoria de 2017 até agora. Ao todo, hoje são 36 startups de soluções financeiras voltadas para o agronegócio, ante as 19 registradas no ano de 2019.
O impacto da fintechzação no agronegócio vai além da oferta de crédito. As fintechs também desempenham um papel importante ao oferecer soluções para a gestão do fluxo de caixa, algo essencial em um setor altamente dependente de ciclos produtivos sazonais. Linhas de crédito que se ajustam aos períodos de colheita, por exemplo, permitem que os produtores façam pagamentos em momentos mais favoráveis, reduzindo a pressão financeira nos períodos de entressafra. Além disso, a digitalização dos processos financeiros, com o uso de plataformas online acessíveis de qualquer lugar, facilita transações e pagamentos, reduzindo o tempo e os custos operacionais.
Muitos são os exemplos de agfintechs que estão revolucionando o acesso a crédito no campo, oferecendo soluções como penhor de safras e proteção contra a volatilidade dos preços das commodities. Recentemente, tive a oportunidade de colaborar com uma empresa líder no setor agropecuário para desenvolver um banco digital especializado para o agronegócio, com uma implementação rápida e eficiente. Esta solução modular foi criada em menos de 30 dias e permite a abertura de contas, tanto pessoa física quanto jurídica, em segundos, além de oferecer desembolsos de crédito de forma ágil.
Embora a empresa parceira não possuísse soluções financeiras em seu portfólio, a colaboração com a QI Tech possibilitou o desenvolvimento de um banco digital com uma infraestrutura robusta. Utilizamos nossa plataforma de Banking as a Service para criar uma solução personalizada que inclui funcionalidades completas de onboarding, antifraude, pagamentos, emissão de boletos e uma diversidade de serviços financeiros. O aplicativo do banco incorpora tecnologias avançadas, como SDKs para reconhecimento facial e OCR de documentos, garantindo uma autenticação segura e precisa. Além disso, a integração com o sistema Pix e a gestão de boletos simplificam a gestão financeira dos produtores, permitindo maior controle e previsibilidade.
Essa inovação não apenas proporciona eficiência financeira, mas também facilita a inclusão de pequenos e médios produtores ao oferecer soluções ajustadas às necessidades do setor. Com o apoio da QI Tech, a empresa do agronegócio pode agora oferecer um acesso mais ágil ao crédito e uma gestão financeira mais eficaz, contribuindo para a modernização e crescimento sustentável do setor agrícola. Tudo isso torna claro que, ao lado da fintechzação, o agronegócio brasileiro se vê diante de uma oportunidade única de modernização e crescimento sustentável. A inclusão financeira proporcionada pelas agfintechs tem o potencial de impulsionar a competitividade do setor, ao mesmo tempo em que promove maior eficiência e inovação.
Gabriel Scherer é sócio da QI Tech.