Pode-se medir em quilômetros, em dias, em expectativas. A distância que separa Cali, na Colômbia, de Baku, no Azerbaijão, e Belém, no estado brasileiro do Pará, ora parece enorme, ora é um pulo, daqueles que quando a gente percebe, já chegou. As três cidades são unidas pelas COPs, com propósitos e números diferentes. Cali acabou de receber a edição 16 da conferência sobre biodiversidade. Baku, esta semana, sediará a do Clima, na versão 29. A de número 30 será no Brasil, em um ano.
São encontros indissociáveis também pela natural relação entre as soluções que buscam e pela complexidade em encontrar consensos sobre a forma de financiá-las. A numeração crescente indica que já houve tantas outras. E a falta de entendimento entre as partes, nações e empresas, aponta para a necessidade de tantas outras. Biodiversidade e clima são temas centrais para o agronegócio brasileiro, que deveria estar (mas nem sempre está) entre as vozes mais ativas nas discussões. Na nossa vizinha Cali, por exemplo, praticamente não havia representantes do setor – que se colocou mais como observador do que como o protagonista que deveria ser.
Havia na pauta assuntos de relevância extrema ao campo, como a dotação e a regulamentação do Fundo do Marco Global da Biodiversidade, instrumento que pode destravar um mercado de créditos capaz de remunerar, por exemplo, proprietários que mantém reservas legais em suas propriedades. Ou também a questão da propriedade intelectual sobre o DNA de bioativos, fundamentais na produção das novas gerações de insumos biológicos. Os avanços, em ambos os casos, foram tão tímidos quanto a participação brasileira na conferência, realizada na outra ponta da Amazônia, tendo Belém como referência. Para Baku, as ambições do Brasil são maiores. O País espera fazer da COP29 uma plataforma de lançamento para transformar a “nossa” COP30 em um marco na formatação de acordos que combinem a preservação ambiental, a produção agropecuária e as mitigações climáticas.
A expectativa global em relação a Baku parece menor do que a que havia nas edições anteriores, indicando que o evento de 2024 é mesmo visto como preparatório para um avanço mais significativo e simbólico pelo fato de estar sendo realizado no bioma mais “vigiado” do mundo. Entretanto, se queremos algo relevante para a COP30, precisamos trabalhar agora. Sobretudo após o resultado das eleições americanas, que colocam dúvidas sobre o futuro das conferências organizadas pela ONU em um cenário em que a maior potência ocidental pode estar alheia aos debates. Não há conversa sobre clima, biodiversidade e produção sustentável de alimentos sem passar pelas propriedades rurais brasileiras. É com essa autoridade que precisamos nos sentar à mesa, seja aonde for.
Aline Locks é CEO da Produzindo Certo.