Especialistas analisam decisão do Copom de elevar Selic para 11,25%

Compartilhe:

Nesta quarta (06/11), o Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central anunciou por meio de comunicado o aumento de 0,50 pp nos juros básicos da economia. A decisão sobre o novo índice da Selic, de 11,25%, veio dentro do esperado pelo mercado.

Abaixo, dois especialistas do mercado comentam sobre o tom do comunicado divulgado na noite desta quarta:

Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital

Copom acelerou o ritmo de subida de juros, como era amplamente aguardado. A decisão do comitê foi unânime, o que o mercado vê com bons olhos. Comunicado muito parecido com o anterior, na minha opinião. O comitê sinalizou um cenário mais desafiador, tanto externo quanto interno.

Fica claro que, entre os motivos para o cenário desafiador atual, temos a atividade econômica resiliente, o mercado de trabalho robusto, a inflação dos últimos 12 meses, que já roda acima do teto da meta e expectativas de inflação desencorando. Além disso, persistem dúvidas sobre a questão fiscal e corte de gastos do governo junto a um cenário externo mais desafiador para emergentes.

Achei o tom da ata bem neutro porque foi exatamente na mesma linha da anterior, então eles justificam que o cenário externo é desafiador para emergentes. A atividade econômica do país está resiliente, o mercado de trabalho robusto, e a inflação corrente está acima do teto da meta, o que mostra ali uma preocupação com a desancoragem da inflação futura e continua sinalizando, na minha visão, que eles estão analisando muito de perto a questão fiscal para a tomada de decisão.

Então, de uma forma geral, todos esses argumentos já foram argumentos utilizados no passado e, diante desse cenário, eles entendem que faz sentido aumentar a velocidade de subida de juros. De 25 pp, que foi a primeira, para 50 pp agora, então a Selic foi de 10,75% para 11,25%. 

Em relação à abertura dos mercados hoje, acredito que o comunicado não vai fazer grande preço porque já era amplamente aguardado pelo mercado. Acredito que um eventual anúncio de um pacote de gastos com mais detalhes pelo governo aí possa sim fazer um preço muito maior. Então eu acredito que isso não será um gatilho para a bolsa no dia de hoje.

Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais

O tom do comunicado veio vem hawkish, com o discurso de ancoragem da inflação no médio prazo, com um horizonte de 2026 no radar, o que levou a alta de 0,50%. O Copom ressaltou a depreciação da moeda local, e os riscos externos, além do “tradicional” risco fiscal. Se analisarmos as atas anteriores, podemos ver que o discurso se repete. 

Destaque ficou por conta do peso do desempenho da economia global. Um maior aquecimento da economia poderia acelerar novamente a inflação no mundo, o que poderia trazer reflexos para o Brasil, e fazer os juros permanecerem elevados por mais tempo, e ainda sem entrar necessariamente nessa conta o fator Trump, que tem um perfil mais expansionista, e deve acelerar gastos e fortalecer o dólar perante as demais moedas. Então, vejo que essa ressaca de estímulos e crescimento ainda pode ter efeito sobre a inflação, e por conseguinte na política monetária. 

Acredito que as próximas reuniões devem vir com um tom de cautela, provavelmente mais uma alta, que é a expectativa do mercado, mas sem dúvida pautando que qualquer novo ajuste vai acontecer olhando o filme todo, e não apenas a fotografia do momento. Temos um BC com postura técnica e precisa, sem dúvida, sendo uma das luzes para a nossa economia, pois apesar de dar um remédio amargo via juros, está fazendo o necessário para o país com base em dados técnicos. Não por acaso o nosso BC foi eleito o melhor do mundo. 

A Bolsa hoje deve abrir com a ressaca do Copom, do dólar, e com as incertezas no nosso fiscal, e com a expectativa da decisão do FED, então o dia pedirá cautela, pois o mar vai estar agitado de volatilidade.

Newsletter

Receba nossa newsletter semanalmente. Cadastre-se gratuitamente.