Depender apenas das chuvas não é mais estratégia viável para o campo

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Nos últimos anos, a agricultura brasileira tem enfrentado um cenário cada vez mais desafiador, marcado pela escassez de chuvas e pelas mudanças climáticas que impactam diretamente a produtividade no campo. A partir de 2012, a falta de chuvas regulares deixou de ser uma exceção e passou a se tornar uma regra, obrigando produtores de todos os tamanhos a repensarem suas estratégias de cultivo. Segundo dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), apenas 5% das lavouras brasileiras são irrigadas, um número alarmante, considerando que o Brasil possui um potencial hídrico significativo.

Historicamente, a agricultura no Brasil sempre se beneficiou de um clima favorável, que permitia o cultivo sem grandes investimentos em irrigação. Mas isso foi sendo gradativamente comprometido com a crescente frequência de eventos climáticos extremos. Os produtores têm percebido que a dependência das chuvas não é mais uma estratégia viável. Isso resultou em um movimento em direção à inovação e à adoção de tecnologias que ajudem a minimizar os efeitos da seca.

De uns tempos para cá, os produtores brasileiros, tanto pequenos quanto grandes, têm investido significativamente em novas tecnologias para enfrentar a falta de chuva. Em média, os pequenos agricultores têm destinado cerca de 15% de sua receita anual para tecnologias de irrigação e conservação de água. Já os grandes produtores, em um cenário mais programado e otimizado, chegam a investir até 25% de suas receitas na implementação de sistemas de irrigação mais eficientes, como gotejamento e pivôs centrais. Esses investimentos são determinantes, pois permitem aumentar a eficiência no uso da água e reduzir as perdas durante períodos de estiagem.

A irrigação não é a única área que vem recebendo atenção. Tecnologias de previsão climática têm se tornado essenciais para a tomada de decisões mais precisas, permitindo que os agricultores planejem melhor o plantio e a colheita. O uso de sensores de umidade do solo e plataformas de dados meteorológicos ajudam a monitorar as condições em tempo real, otimizando o uso de insumos e recursos hídricos.

Além dos investimentos em infraestrutura, a pesquisa agrícola também tem desempenhado um papel fundamental na adaptação das culturas às novas condições climáticas. Variedades de plantas mais resistentes à seca estão sendo desenvolvidas, permitindo que os agricultores tenham opções mais robustas em seus cultivos. O uso de cultivares tolerantes à seca pode significar a diferença entre uma colheita produtiva e uma perda significativa.

Órgãos de pesquisa, como a Embrapa, IDR, Epagri e Emater, além de outros, têm trabalhado em parceria com agricultores para disseminar práticas de manejo que ajudam a conservar a umidade do solo, como o plantio direto e a rotação de culturas. Essas práticas não apenas melhoram a resiliência das lavouras frente à seca, mas também promovem a saúde do solo, o que é fundamental para a sustentabilidade a longo prazo.

Mas, embora os avanços tecnológicos e as inovações tenham ajudado a minimizar alguns dos efeitos da falta de chuva, os desafios ainda são imensos. A variabilidade climática e as mudanças no regime de precipitações exigem que os agricultores estejam sempre um passo à frente. A educação e a capacitação contínuas são fundamentais para que os produtores possam aproveitar ao máximo as novas tecnologias e se adaptar rapidamente às condições mutáveis.

Além disso, o papel da conscientização ambiental não pode ser ignorado. Promover práticas agrícolas sustentáveis e a preservação dos recursos hídricos são essenciais para garantir a produtividade a longo prazo. A colaboração entre agricultores, pesquisadores e governos será crucial para desenvolver soluções inovadoras que garantam a segurança alimentar e a sustentabilidade do agronegócio brasileiro. 

André Corradini é Engenheiro Agrônomo, Mestre em gestão do Conhecimento, professor e coordenador dos cursos de Ciências Agrárias da Uninter.

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