O agronegócio desde seus primórdios é um dos pilares fundamentais para a economia global e, principalmente, para a segurança alimentar mundial. No entanto, os desafios ambientais e climáticos têm imposto pressões sem precedentes sobre o setor. No Brasil, por exemplo, os extremos climáticos como as enchentes no RS e a seca da região Norte, já resultaram em perdas estimadas de R$ 6,67 bilhões para o segmento. Esses impactos, que incluem danos estruturais e prejuízos nas atividades agrícolas e pecuárias, devem continuar a crescer, refletindo a gravidade das condições ambientais atuais, afetando ciclos de cultivo, e, em muitos casos, devastando áreas produtivas. Essa realidade está colocando em risco a produção de alimentos e ameaçando agravar a fome em diversas regiões do planeta.
Como se já não bastasse o caso agravante, as mudanças climáticas também impactam na redução na disponibilidade de matérias-primas. Com a escassez de recursos naturais, não apenas a produção de alimentos é afetada, mas também há um impacto direto nos preços, tornando os produtos mais caros e inacessíveis para populações vulneráveis. Diante desse cenário, o agro é muito criticado, mas é também um dos setores mais interessados em assumir as frentes de combate ao desperdício das cadeias produtivas e se aliar à sustentabilidade para uma nova economia. Por isso, há um movimento crescente dentro do setor que busca reverter esse quadro
Empresas e organizações do agronegócio estão começando a perceber que a sustentabilidade não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para garantir a longevidade de seus negócios e a segurança alimentar mundial. Investimentos em inovação e tecnologia têm sido fundamentais para promover práticas agrícolas mais sustentáveis e eficientes. Iniciativas como a adoção de técnicas de agricultura de precisão, o uso de biotecnologia para desenvolver culturas mais resistentes e adaptadas às mudanças climáticas, e o incentivo à agrofloresta são exemplos de como o setor tem se adaptado para reduzir seu impacto ambiental. Além disso, há um esforço significativo para combater o desmatamento e o desperdício de alimentos, duas das principais ameaças à sustentabilidade no agronegócio.
As organizações estão se engajando em práticas que visam a preservação de áreas florestais, a recuperação de solos degradados e a redução das emissões de gases de efeito estufa. O uso de tecnologias de monitoramento em tempo real e de inteligência artificial tem permitido uma gestão mais eficiente dos recursos naturais, otimizando o uso da água, energia e insumos agrícolas. No Brasil já existem empresas, grandes operadores agrícolas, que há mais de uma década já tem práticas implementadas que mitigam os riscos ambientais e promovem agendas ESG. Além disso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) possui um vasto acervo de pesquisa ambiental que comprova as iniciativas e melhorias significativas no setor.
Além das iniciativas empresariais, há também um aumento na colaboração entre diferentes atores do setor – desde produtores rurais até grandes corporações – para criar soluções conjuntas que possam ser escaladas em nível global. Programas de certificação e rastreabilidade têm sido implementados para garantir que os produtos agrícolas sigam padrões rigorosos de sustentabilidade, atendendo à demanda crescente dos consumidores por alimentos produzidos de maneira ética e responsável – e isso é uma realidade já em atividade com diversos produtores rurais brasileiros. Por isso, é inegável que a inovação e a tecnologia serão os principais aliados nessa jornada, mas será necessário um esforço coletivo, envolvendo empresas, governos e sociedade, para garantir que a produção de alimentos continue a crescer de forma sustentável, sem comprometer o futuro das próximas gerações.
Carla Hoffmann é CEO da AWA, consultoria que fomenta negócios para empresas regenerativas, fundadora do Movimento Nova Economia (FOTO INTERNA).
Luciana Di Paula é Gerente de Floresta da Algar Farming, empresa de agronegócio do Grupo Algar, apoiadora do Movimento Nova Economia (FOTO AO ALTO).