Especialistas analisam decisões do Copom e do FED sobre juros

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Nesta quarta (18/09), o FED – banco central norte-americano – anunciou uma queda de juros de 0,50 ponto percentual enquanto no Brasil o Comitê de Política Monetária do Banco Central determinou uma alta de 0,25 p.p., conforme já esperado pelo mercado. Abaixo seguem análises do comunicado divulgado pelo Copom, no Brasil, e sobre a decisão do FED, nos EUA:

Comunicado divulgado pelo COPOM – BC:

Luiz Rogé (à esquerda na foto), economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Asset Management

“Comunicado realista e hawkish, principalmente porque menciona explicitamente que estamos iniciando um ciclo de alta. E não deixa claro o tamanho da alta porque o comitê é data dependent, depende da evolução das variáveis, seja de inflação, seja do ritmo de atividade, desancoragem, para poder precisar isso. 

Então o comitê vai tateando e aumentando essa taxa conforme achar que deve. Afirma que é um ciclo de alta que começou e fala isso explicitamente. É claro que, se tivermos surpresas, podem não vir outras altas, mas eu não acredito, porque eles estão sendo muito explícitos nisso, em relação a altas. Eles não acreditam que essa alta apenas vai, de imediato, resolver as condições econômicas piores que temos aqui. 

Conforme o comitê colocou no último comunicado também fala da questão fiscal. Então, basicamente, repetiu isso. Mas o detalhe mais importante é a questão da assimetria da inflação e o início de um ciclo de alta, em que vão vir mais aumentos, quer dizer, não foi um aumento só e ponto.

A tendência é de que virão mais aumentos na taxa de juros nas próximas reuniões. Isso ele [o comitê] vai analisar o quanto vai aumentar e em que frequência dependendo dos dados.Comunicado destaca ainda a resiliência da atividade aqui no mercado local, levando o hiato do produto para o nível positivo, ou seja, um patamar inflacionário ou de pressão de demanda.

Tenho acompanhado que a inflação vem vindo ou tem vindo acima do esperado, principalmente a inflação subjacente, aquela que eles medem através dos núcleos. Então, tem se situado acima da meta de inflação mais recente.

Eles colocam que o comitê avalia que há uma assimetria altista no balanço de riscos para a projeção de inflação. Portanto, isso significa uma maior possibilidade ou probabilidade de que a inflação suba vis-à-vis a probabilidade que ela caia. Daí, então, o aumento de 25 bps na taxa básica Selic.

Os pontos apontados por eles em razão da alta da taxa basicamente são os mesmos do comunicado anterior, com a diferença bastante clara de que está sim havendo uma assimetria positiva para o lado da inflação, entre a probabilidade de alta da inflação e de baixa dela.

O comunicado retoma os pontos de resiliência na atividade, pressão no mercado de trabalho, elevação de projeção de inflação e expectativas desancoradas, demandando uma política monetária mais contracionista, daí o aumento da taxa.

Importante destacar que a decisão foi unânime. Todos os diretores votaram pelo aumento da taxa, o que é visto de forma positiva.

No último parágrafo menciona que se iniciou um ciclo de alta na taxa de juros. Ele não menciona, mas ele fala explicitamente. O ritmo dos ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado, ou seja, é um ciclo de alta, e fica claro que virão mais aumentos na sequência. Porém, ele não quer antecipar e não diz qual será o ritmo desses ajustes e nem qual será a magnitude total desse ciclo de alta. Mas eles serão ditados, conforme ele sempre diz, pelo compromisso do Banco Central em tentar fazer a convergência da inflação à meta e vão depender, basicamente, das condições da economia. E da evolução e dinâmica, tanto da inflação quanto de outros componentes, como da atividade econômica, entre outros.

Importante também destacar que eles mencionam o dólar no início do comunicado, da mesma forma como foi comentado no comunicado anterior, que isso pode ter um efeito inflacionário, mas em nenhum momento comentam com mais ênfase a questão de uma desvalorização cambial, uma potencial ou possível continuidade de desvalorização cambial. Isso deve ser possivelmente, na minha visão, por conta exatamente da queda que houve na taxa de juros americana, definida hoje pelo FED, iniciando o ciclo de baixa na taxa de juros lá e nós iniciando o ciclo de alta na nossa taxa de juros básica. 

Ou seja, a diferença entre as duas taxas tende a aumentar e, com isso, trazer mais recursos para o Brasil através de operações em que o investidor toma dinheiro numa taxa inferior e aplica aqui numa taxa superior. E isso faz com que haja uma pressão vendedora do dólar, ou seja, na cotação do dólar, quando esses recursos entram aqui no Brasil. Então, o comitê não está esperando uma valorização da cotação do dólar, ao contrário. Olhando para frente, está percebendo que, com esse aumento do diferencial das taxas, a gente deve começar a atrair possivelmente mais recursos aqui para a renda fixa e, portanto, não enfatizou essa questão de dólar no comunicado.

Ou seja, praticamente repetiu as condições tanto para um aumento na inflação quanto para uma queda na inflação, entretanto, enfatizou que existe nesse momento, na decisão deles, uma assimetria com aumento da probabilidade de alta da inflação frente à probabilidade de baixa da inflação. 

Considerando todo o contexto de uma economia resiliente na atividade, uma economia com inflação subjacente também resiliente, uma desancoragem de expectativas de inflação, entre outras questões, que justificam para o comitê o início de um ciclo de alta que não afirma quando vai terminar e nem em que patamar vai terminar.”

 

Decisão do FED, nos EUA:

Andre Fernandes (à direita na foto), head de renda variável e sócio da A7 Capital

“Decisão veio dentro da maioria das apostas na CME [CME Group], em que as apostas majoritárias eram de um corte de 0,50 ponto percentual. 

As bolsas incialmente reagiram de forma positiva. Na minha visão, um corte de 0,50 p.p. pode ser excelente para o fluxo do investidor estrangeiro para países emergentes que estão apresentando bom crescimento, e o Brasil é um dos destinos desses recursos.

Os maiores destaques da fala de Powell [Jerome Powell, presidente do FED] são sobre o emprego por lá. Ele acredita que estão muito no limite da taxa de desemprego começar a subir, e isso, na visão dele, pode justificar o corte de 0,50 p.p..

Outra fala de destaque foi sobre o nível neutro da taxa de juros por lá, que na visão dele é muito maior do que era antigamente, e não vê mais os EUA com taxa de juros negativas no futuro.

Acredito que nas próximas reuniões teremos novos cortes de 0,50 p.p. apesar de Powell deixar claro que vai depender de dados.”

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