A pecuária brasileira está diante de desafios cada vez maiores, exigindo soluções inovadoras que garantam produtividade, sustentabilidade e bem-estar animal. Entre as alternativas que vêm se destacando, o Antecipasto, tecnologia desenvolvida pela Embrapa Agropecuária Oeste, tem se mostrado uma ferramenta essencial para a integração lavoura-pecuária, promovendo eficiência no uso da terra e maior segurança alimentar para o rebanho.
O grande diferencial dessa tecnologia está na possibilidade de consorciar soja e um capim forrageiro, como a BRS Tamani, a qual é semeado, normalmente, entre o 14 e 20 dias após a germinação da cultura da soja, permitindo que a pastagem esteja disponível de forma antecipada aos animais, quando comparado aos demais métodos, após a colheita do grão. Em alguns casos, em anos onde a seca é severa, acaba se tornando a diferença entre “ter” e não “ter” pastagem disponível. Esse processo reduz significativamente o chamado “vazio forrageiro” em 45 a 50 dias , período crítico em que a oferta de alimento para o gado diminui drasticamente, obrigando os pecuaristas a recorrerem a suplementações mais onerosas. Com o Antecipasto, esse problema é mitigado, garantindo pastagem de qualidade nos meses mais secos do ano, um período historicamente desafiador para a pecuária nacional.
A adoção dessa tecnologia traz impactos diretos na produtividade e na rentabilidade das propriedades rurais. O fornecimento antecipado de pastagem aumenta a taxa de lotação anual das áreas de pecuária, permitindo um melhor aproveitamento da terra e da infraestrutura existente. Além disso, a redução de custos com suplementação alimentar representa uma vantagem econômica considerável, aliviando os impactos financeiros da entressafra. Outro ponto crucial é a melhoria da saúde do solo, já que o consórcio entre culturas favorece a ciclagem de nutrientes, aumenta a retenção de umidade e reduz processos de degradação, como erosão e compactação .
A sustentabilidade do processo também é um fator de destaque. Em um momento em que a agropecuária está no centro dos debates globais sobre mudanças climáticas e conservação ambiental, tecnologias como o Antecipasto reforçam a capacidade do setor de adotar práticas alinhadas aos princípios ESG (Environmental, Social and Governance). A utilização dessa técnica contribui para a redução da pegada de carbono da atividade pecuária, ao passo que melhora a eficiência na produção de proteína animal, tornando o setor mais competitivo e alinhado às demandas do mercado.
Na JB APec, a implementação do Antecipasto já é uma realidade há 5 anos, e os resultados têm sido expressivos. A experiência demonstrou que a integração lavoura-pecuária pode ser uma estratégia acessível e viável para produtores de diferentes perfis. O impacto positivo na produtividade e a preservação dos recursos naturais mostram que é possível conciliar crescimento econômico e responsabilidade ambiental .
Diante da necessidade de soluções inteligentes para um agro mais eficiente, o Antecipasto se consolida como um modelo de produção sustentável que pode transformar a pecuária brasileira, especialmente em regiões onde não é feita uma safrinha com culturas graníferas e onde há integração com a pecuária. É hora de ampliarmos essa discussão e incentivarmos a adoção de práticas que fortaleçam o setor, garantindo segurança alimentar e conservação dos recursos naturais para as futuras gerações.
Carlos Eduardo Madureira Barbosa é Engenheiro Agrônomo e Diretor da JB APec.