A terceirização da engorda do gado de corte tem apresentado lucratividade e eficiência para os pecuaristas. Já os confinadores ganham com escala e aumentam a taxa de lotação das fazendas
A pesquisa expedicionária Confina Brasil visitou, na semana de 15 a 19 de julho, confinamentos de gado de corte do Mato Grosso, passando pelas cidades de Brasnorte, Novo Horizonte do Norte, Nova Monte Verde, Colíder, Nova Canaã do Norte e Sinop. Durante as visitas, os especialistas da Scot Consultoria, organizadora do projeto, coletaram dados sobre a nutrição, sanidade, tecnologia, gestão, bem-estar animal e sustentabilidade, além de identificarem as principais características do setor em termos de gestão e manejo. Um dos destaques apontado pela equipe foi a mudança de visão dos pecuaristas para os boitéis. “Percebemos uma mudança de visão, onde o boitel não é mais visto como uma estratégia somente para não deixar o animal desamparado na seca. Pecuaristas passaram a ver lucratividade na terceirização do processo de terminação do gado e os confinadores veem como uma oportunidade de rentabilizar ainda mais o negócio, tendo como outros benefícios a possibilidade de aumentar o rebanho e a taxa de lotação das fazendas”, comentam os especialistas da Scot.
O boitel é um serviço terceirizado de engorda do gado, sendo uma alternativa muito viável considerando o elevado investimento necessário para se começar um confinamento, principalmente com escalas menores onde a diluição do custo por cabeça é baixa. Pecuaristas procuram os boitéis para a terminação de lotes em cocho, aliviando as pastagens nas épocas secas, onde a qualidade e capacidade suporte dos pastos caem consideravelmente. Ao terceirizar a fase de terminação do gado — que, em média, dentro de 100 dias será levado para o frigorífico —, o pecuarista tem as despesas de suas cabeças de gado detalhadas e acompanhamento nutricional dos bovinos, além de receber relatórios sobre a evolução de seus lotes e contar com padronização do manejo. É o que acontece, por exemplo, no confinamento Ponto Alto, de Sinop. A propriedade trabalha com praticamente todos os sistemas de boitel: cobrança de diária, parceria e arroba produzida ou consumo de matéria seca. A principal diferenciação da propriedade é a flexibilidade oferecida ao pecuarista, que pode escolher qual sistema atende melhor suas necessidades ao final do processo, permitindo a ele optar pelo modelo mais vantajoso.
Para atrair pecuaristas, boitéis precisam se profissionalizar
A profissionalização se tornou uma chave para atrair pecuaristas que querem acompanhar de perto a engorda do seu gado para terem informações mais certeiras na tomada de decisões. “Como os boitéis lucram com a venda de serviços, é essencial que mantenham um controle rigoroso dos custos por cabeça para fornecerem relatórios detalhados e regulares aos proprietários, garantindo transparência e ajudando os pecuaristas na tomada de decisões”, explicam os especialistas da Scot. Na Ramax, em Novo Horizonte do Norte, 70% do gado presente nas instalações do confinamento pertencem a terceiros que optaram pelo serviço de boitel. Os gestores relatam que foi necessário sensibilizar os pecuaristas da região sobre a possibilidade de lucro com a terceirização da engorda, deixando de ser um sistema no qual eles só apostavam quando já não tinham mais pasto.
A resposta positiva dos pecuaristas impulsionou a Ramax a buscar maior profissionalização e inovação, com ênfase na gestão de dados e no engajamento da equipe como pilares fundamentais para o sucesso das operações. A empresa praticamente se transformou em uma indústria a céu aberto, elevando os padrões da atividade agropecuária. Recentemente, Felipe Fabbri, zootecnista e consultor da Scot Consultoria fez uma simulação comparando boitel com semiconfinamento, tentando responder o que valeria mais a pena para o pecuarista no período de seca. No modelo, o gado entraria com 12 arrobas e sairia com 17, sendo considerado o preço da arroba do dia no estado de São Paulo. Comparativamente, no caso do semiconfinamento, o gado levaria 130 dias para alcançar o mesmo peso que se chegaria em 90 dias no sistema confinado (boitel) e o pecuarista ainda teria como benefício o alívio das pastagens para o próximo ciclo de produção. A sugestão do consultor pela decisão por um dos modelos é que o pecuarista deveria levar em consideração outros fatores como o caixa da empresa, preço da arroba na região e a qualidade atual da pastagem. Saiba mais sobre a simulação no portal da Scot Consultoria.
Diferentes estratégias para intensificar a produção pecuária no MT
Outro ponto de destaque durante as visitas ao Mato Grosso foram as diferentes estratégias que os produtores estão adotando para intensificar a produção pecuária. O sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) é uma das mais recorrentes. De acordo com um primeiro levantamento das rotas do Confina Brasil 2024, 41,8% das propriedades visitadas até o momento adotam essa prática, e o Mato Grosso tem peso nessa porcentagem. A Fazenda Flexa de Ouro, em Brasnorte, por exemplo, trabalha tanto com agricultura como com pecuária. Eles apostaram na ILP para otimizar a ciclagem de nutrientes e melhorar a qualidade do solo, resultando em maior produtividade agrícola. Além disso, os bovinos se beneficiam de pastagens de melhor qualidade e maior oferta forrageira, aumentando o potencial de desempenho do rebanho.
Dentre os benefícios notados pelos produtores estão maior renda, melhora na eficiência no uso de recursos e contribuição para a sustentabilidade da propriedade. A intensificação da pecuária também fica evidente através da adoção de tecnologias e estratégias para melhorar o manejo do gado. Na Fazenda Embu, de Nova Monte Verde, por exemplo, que também realiza a ILP, os produtores têm apostado há anos no melhoramento genético do próprio gado, fazendo uso de diferentes tecnologias para suas avaliações. Assim que nascem, machos e fêmeas recebem uma marca do mês de nascimento e uma identificação do sêmen utilizado, determinando a paternidade de cada animal. A partir do acompanhamento de indicadores zootécnicos da evolução individual desses bezerros, torna-se possível avaliar o melhor touro utilizado na estação de monta dentro dos critérios estabelecidos. Isso permite um planejamento mais preciso sobre o sêmen mais eficiente a ser utilizado em cada lote de fêmeas.
Sobre o Confina Brasil
O Confina Brasil é uma pesquisa-expedicionária promovida pela Scot Consultoria, que tem como propósito mapear e retratar o cenário da pecuária intensiva brasileira. Na sua 5ª edição, em 2024, a expedição percorrerá o país em 4 rotas que acontecerão de forma ininterrupta de junho a outubro, passando por 12 estados. Nas visitas às fazendas, zootecnistas, veterinários e consultores da Scot Consultoria coletam dados sobre a nutrição, sanidade, tecnologia, gestão, bem-estar animal e sustentabilidade, além de identificar as principais características do setor em termos de gestão a partir de entrevistas com responsáveis nas propriedades que vivenciam a lida diária. Ao final do projeto, o Confina Brasil publica um estudo descritivo completo e gratuito para compartilhar com o setor os principais dados, índices e indicadores encontrados. Ao longo dos anos, o Confina Brasil já visitou, in loco, mais de 500 confinamentos e semiconfinamentos. Foram mapeadas mais de 10 milhões de cabeças ao longo do projeto, percorridos mais de 200 mil km, em 16 estados brasileiros.