O setor portuário tem sido um dos grandes responsáveis pelo “custo Brasil”. No entanto, o crescimento acelerado do comércio exterior do Brasil, especialmente em segmentos como agronegócio, mineração e combustíveis, vem modificando esse cenário. Isso porque faz antever um aumento de demanda pela reforma e ampliação da infraestrutura portuária em todo o país. Não por acaso, o mercado vem registrando um aumento da procura de grupos de investidores estrangeiros, de olho em bons negócios e com interesse em adquirir ou se associar a operadores portuários brasileiros. O mercado espera uma nova onda de fusões e aquisições no setor portuário. Operações anunciadas somam ao menos R$ 7 bilhões em investimentos, considerando apenas a participação dos controladores nas empresas de capital aberto à venda, em diversas regiões do país. Esse processo de consolidação é fundamental para otimizar operações, reduzir custos, fortalecer o setor e reduzir o “custo Brasil”.
É importante destacar que o programa de concessões e privatizações do governo brasileiro tem acelerado as fusões e aquisições no setor. Empresas privadas estão adquirindo concessões de terminais portuários e participando de licitações para operar infraestruturas portuárias, o que estimula um ambiente competitivo e atrai capital, tanto nacional quanto estrangeiro. O setor portuário movimentou 1,3 bilhão de toneladas em 2023, maior volume registrado na série histórica, representando um crescimento de 6,9% em relação ao ano anterior, de acordo com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Na avaliação da Agência o crescimento será de 2,3% neste ano, alcançando 1,313 bilhão de toneladas.
Para atender o aumento da movimentação de cargas, os investimentos serão, em 2024, de cerca de R$ 7,9 bilhões em novos arrendamentos e de R$ 6 bilhões em TUPs (terminais de uso privado). Até 2026, serão mais de R$ 75 bilhões em todas as frentes, segundo a Antaq. Nessa esteira, operadores portuários e grupos de infraestrutura buscam diversificar seus portfólios, adquirindo ativos que complementem as operações principais. Isso inclui a compra de terminais especializados em diferentes tipos de carga, como combustíveis, grãos, contêineres, ou até mesmo a expansão para áreas, como logística e transporte multimodal. Cabe destacar que essas operações têm o potencial de gerar significativos impactos econômicos, tanto em termos de aumento de investimentos quanto na geração de empregos e desenvolvimento regional. A entrada de novos players no mercado deverá trazer inovações e melhorias na infraestrutura portuária brasileira.
Um exemplo de desenvolvimento da infraestrutura regional são os portos de Paranaguá e Antonina, ambos no Paraná, que estão entre os melhores do Brasil em relação a eficiência operacional, estrutura organizacional, índices financeiros e transparência administrativa. Vale destacar que o Estado do Paraná, com o trabalho realizado nos últimos anos, passou a ser conhecido como a “Arábia Saudita do biogás”. Isso porque os paranaenses estão criando um “ecossistema” de incentivo a essa energia limpa, com isenção de impostos sobre a compra de insumos e investimentos para a construção de gasodutos ligando propriedades e a criação de linhas especiais de crédito.
O Paraná terá, por exemplo, o primeiro terminal de liquefação de biometano (conhecido como Bio-GNL) das Américas. O porto de Paranaguá será pioneiro na liquefação, armazenamento e exportação do produto. Um esforço conjunto entre o Governo do Estado do Paraná, a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina e a empresa Liquipar Operações Portuárias S.A tornou possível um projeto estruturante, que será um divisor de águas no país para o desenvolvimento da chamada “pauta verde” no setor de combustíveis.
Com a continuidade prevista do crescimento comércio exterior brasileiro, a tendência é que o mercado siga atraindo capitais, a partir das demandas de novas e mais modernas instalações portuárias, especialmente em um cenário de maior privatização e abertura ao capital estrangeiro. A modernização dos portos e a expansão de terminais especializados continuarão a ser áreas de foco para investidores. E os negócios do setor serão, cada vez mais, impulsionados por uma combinação de interesse internacional, programas de concessões e a necessidade de modernização e aumento de capacidade. Melhores tempos à vista!
Cleiton Santos Santana é Fundador Cotista do Grupo BSO – Brazil Special Opportunities, com mais de 20 anos de experiência nos setores de Energia, Commodities e Financeiro.
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